Ontem fui a um jantar de homenagem de uma colega que passou à situação de reforma. Trabalhei com ela entre 1996 e 1999. Retrocedendo a esse tempo e fazendo uma análise sobre a evolução das relações de trabalho até ao presente, não tenho dúvidas que houve princípios estruturantes das relações profissionais que se alteraram. Hoje, o valor intrínseco da ética profissional, do respeito e da confiança, perdeu-se ou diminuiu dando lugar a outros sentidos de presença e de pertença.
Existem três fases no ciclo de vida do Homem cuja passagem pode provocar efeitos psicológicos e comportamentais preocupantes. A entrada na vida escolar, a entrada no mercado de trabalho, e a de entrada na reforma, este, segundo Atchley (1976), genericamente, é composto pelas seguintes fases:
Pré-Reforma – começa a haver uma separação emocional ao trabalho a uma aproximação fantasiada acerca das expectativas da reforma;
Lua de Mel – ao abandonar a vida profissional, o individuo vive intensamente as fantasias que elaborou na fase anterior;
Desencanto – descoberta que as fantasias não são tão gratificantes quanto as expectativas, podendo ocorrer depressão na sequencia do sentimento de vazio;
Definição de Estratégias do Coping – o individuo busca soluções realistas e enquadradas à sua pessoa, abandonando as fantasias que trazia consigo, e procurando motivos para uma satisfação mais duradoura;
Estabilidade – ao revelar capacidade para pensar e sentir a vida de forma integrada, o indivíduo define objectivos, encontrando o equilíbrio;
Retorno – ao encontrar o equilíbrio e face a objectivos que se vão adaptando ás circunstâncias, alguns indivíduos encontram de novo uma ocupação profissional que não se apresenta, necessariamente, como a principal motivação.
Creio que existe um factor comum a todas estas fases e que condicionam, ou não, a progressão psicológica. Esse factor é a procura para conseguir manter o sentimento de utilidade social num mundo cada vez mais estereotipado.
Penso que há, pelo menos, duas ideias que poderão ajudar a isso. Uma é o facto de podermos usar o tempo a nosso favor e como bem nos apetecer, a outra é sabermos que existem muitos inúteis no activo.
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