“Partindo da análise do nosso quotidiano e aproveitando para abordar a temática da avaliação em contexto escolar, pretendo com este texto (1) referir algumas das modalidades de avaliação escolar dos alunos, (2) reflectir nos moldes que utilizamos (tanto a escola como os pais) para avaliar e (3) partilhar algumas estratégias que podem ser utilizadas para potenciar as vantagens da avaliação na nossa vida (dos pais, dos filhos, da comunidade educativa).
A um nível global, actualmente vivenciamos um momento de crise (entenda-se a sócio-econónico-humano-política). Avaliar custos, ganhos, gastos, alternativas e consequências parece ser o segredo para uma boa gestão de percursos de vida, de sustentabilidade e sucesso. Por outro lado, viver sem padrões, sem medida, sem conhecimento do esforço útil que produzimos pode ser decepcionante, cansativo, fonte de insegurança e mal-estar.
Nos mais diversos contextos (o escolar inclusive), para um desenvolvimento sustentado a longo-prazo, em alternativa a soluções iô-iô, temporárias e inseguras, é necessário avaliar medidas já estabelecidas e, após avaliação, pensar opções adaptadas às necessidades. Na escola, podem considerar-se três modalidades de avaliação. A avaliação diagnóstica, realizada no início do ano, que enquadra o aluno face às aprendizagens que realizou no ano que passou; a avaliação formativa tem um carácter descritivo, sistemático e contínuo e permite acompanhar o progresso individual de cada aluno, estabelecendo metas de aproveitamento nos vários domínios do desenvolvimento (aprendizagem, competências, conhecimentos, atitudes) e reflectindo a base da classificação do aluno; por fim, utiliza-se a avaliação sumativa, o balanço final do trabalho desenvolvido pelos alunos, que pode ser utilizada em dois momentos – no final dos períodos e no final de cada ciclo (4º,6º e 9º anos). Qualquer uma destas modalidades pode provocar desconforto, ansiedade e até medo, quando processo é visto como indesejável e incontrolável e pode ser desajustada e desmoralizante quer para alunos, quer para professores, que podem não ver os seus esforços reconhecidos. Noutra perspectiva, a possibilidade de ser avaliado poderá potenciar o esforço e levar os alunos a quererem ir mais longe, a testar as suas capacidades, a melhorar, a validar o seu empenho e descobrir as suas dificuldades.
Assim como as várias modalidades, a avaliação pode ser utilizada com o objectivo de certificação, para garantir que os alunos atingem determinado nível; de orientação, identificando pontos fortes e menos fortes e, através de feedback, dar oportunidade de melhorar os últimos; de selecção, utilizada na determinação dos alunos para entrada nos cursos superiores ou na entrada na vida activa; e transversalmente uma função motivadora para o empenho e êxito, desde que os objectivos a atingir consigam ser alcançados pelos alunos.
A maneira como a escola avalia é um reflexo da educação que valoriza. Toda a avaliação deveria ser realizada no sentido de apoiar os alunos na sua aprendizagem. Acredito que a avaliação não tem que ser uma actividade solitária do professor. Isto é, cabe ao professor realizar avaliações formais, que normalmente levam a uma classificação, mas os pais podem reforçar este processo, avaliando atitudes e comportamentos dos seus filhos. Enquanto modelos, os pais são os principais agentes educacionais, valorizando comportamentos ajustados em relação à escola, promovendo atitudes de sucesso e qualidade na aprendizagem, podendo também mediar o grau de aceitação/recusa à avaliação. Avaliar é questionarmo-nos acerca do valor daquilo que fazemos, o que - com conta, peso e medida - não tem mal nenhum. Sugerem-se, de seguida, algumas estratégias mais práticas que poderão ser utilizadas pelos pais para facilitar a eficácia e a relação com a avaliação:
1 - Observar, questionar e reflectir são três bons instrumentos que os pais podem utilizar para avaliar a conduta dos filhos, mas o protocolo exige que sejam utilizados com simultâneo respeito pelo ritmo e individualidade do aluno;
2 – Promover hábitos (organização do espaço de estudo, do tempo útil) e métodos de estudo (leitura em voz alta, sublinhado, resumos, esquemas, mnemónicas, etc.) pode ajudar os seus filhos a responder às situações de avaliação.
3 - Enquanto orientadores da vida escolar dos alunos, os pais, assim como a comunidade educativa podem (e devem!) motivar os alunos para aprender, antecipando consequências (as positivas e as negativas) dos diferentes resultados possíveis da avaliação.
4 – Validar os critérios de avaliação, respeitar e conhecer a avaliação realizada e trabalhar em conjunto para superar dificuldades, são passos essenciais neste processo, para além do estabelecimento de uma relação de confiança com os Professores do seu filho.
5 – Ter em mente que a eventual não consecução das metas de aprendizagem, que pode levar a uma avaliação negativa, deve ser encarada não como entrave ao progresso, mas como oportunidade de diálogo e crescimento, de aprendizagem e de treino de resiliência.
Com um sentido verdadeiramente adaptativo, avaliar é um modo de vida, uma metodologia que, quando utilizada com moderação, permite ao indivíduo posicionar-se e decidir o seu rumo em relação ao ambiente que o rodeia e em que se desenvolve. É decidir. Importa, assim, potenciar as funções mais ricas da avaliação (diagnóstico, compreensão, melhoria, aprendizagem, apoio) e diminuir as indesejáveis (comparação, descriminação, hierarquização), para que o difícil seja sempre relativo e ultrapassável mediante a adopção de novas e criativas soluções.
Acreditamos que, em conjunto, conseguimos formar os nossos alunos na esperança sustentada de que é possível ser cada vez melhor, superar-se e encontrar (um) valor em si e na sua aprendizagem.
Texto da autoria da Ana Filipa Gomes (licenciada em Psicologia pela Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação da Universidade de Lisboa) em orientação de estágio.
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