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.......mas esta mentira já leva uma longa vida

Como diz Boaventura Santos estamos a ser agidos. 
Literalmente!
Retomando o analogismos é como se num jogo de futebol, o treinador (políticos) da nossa equipa definisse a estratégia a pensar na forma como o adversário pode mais facilmente marcar golos.

Portugal foi sempre um País de monopólios. 

Como império fomos sempre maus colonos pois nunca colonizamos a pensar no desenvolvimento dos povos indígenas, sacámos o mais que pudemos e mantivemos demasiado tempo o império à custa de vidas, pagando um preço elevado nas relações com a Europa Central, para sustentar meia dúzia de famílias.
A descolonização foi uma desgraça, feita à pressa, sem uma retirada estratégica no sentido de precaver as relações futuras. Hoje poderíamos ter uma vantagem competitiva muito forte junto das nossas ex-colónias e não temos.

Depois de 1974, entrámos na CEE por baixo e na convicção de que isso nos catapultaria para o nível do desenvolvimento europeu. Estávamos ainda na 1ª modernidade, os países europeus já iam na 2ª modernidade (Santos, 2011) e seria uma excelente oportunidade. Em vez de aplicar os fundos comunitários na ciência, na educação, investigação e desenvolvimento estratégico, construímos auto-estradas, abandonámos o mar e os caminhos de ferro, renovámos o parque automóvel, construímos casas e criámos endividamento às famílias e empresas. 

Temos vivido sob uma oligarquia política e ideológica, conduzida por vários monopólios adeptos do mercado livre e desregulado que usam as relações viciadas da democracia representativa para defenderem os seus interesses.
Ainda ontem na SIC Noticias, no programa “Negócios da Semana”, o presidente da Deco mostrava que 42% da nossa factura da electricidade não tinha nada a ver com a produção e transporte de energia, mas dizia respeito a contratos escandalosos e pouco claros celebrados entre políticos e gestores e que se mantêm apesar das dificuldades.
Soubemos também que uma parte significativa da divida provém da valorização monetária especulativa e da aplicação de juros cuja taxa (15%) é internacionalmente considerada usuária dado se situar acima dos 7%.

Hoje, aqueles que conduziram o País ao longo destes tempos para uma situação insustentável falam de credibilidade de Portugal como um devedor que cumpre as suas responsabilidades, e mais uma vez, aplicam medidas que penalizam apenas os trabalhadores por conta de outrem cujo resultado será o agravamento das desigualdades sociais, cujo fenómeno é particularmente gravoso em Portugal.
Desde 1985 que o aumento acumulado nesta dimensão é de 17,5% (coeficiente de Gini) na distribuição dos rendimentos. Os dados do Inquérito às Condições de Vida e Rendimento (EU-SILC) de 2009 indicam que Portugal é um dos países europeus com maior desigualdade social. O rendimento dos 20% da população nacional mais rica é 6 vezes mais alta que o dos 20% mais pobres.
No mesmo Inquérito, 17,9% da população estava em risco de pobreza mesmo após as transferências sociais às famílias. Esta percentagem sobe para 24% sem as transferências relativas a pensões e para 41,5% se não houvesse transferências sociais.  

Mais preocupante é que, para além das desigualdades sociais, Portugal apresenta níveis elevados de desigualdades de oportunidades, isto é, os indivíduos e famílias não têm acessos iguais aos recursos ou empregos que lhes permitam obter rendimentos médios, sendo que a disparidade tem origem mais em comportamentos institucionais do que à falta de empenho dos indivíduos ou famílias.
É uma falácia política e empresarial julgar os trabalhadores portugueses como improdutivos e que é necessário trabalhar mais horas para pagar a crise. Dados da OCDE, indicam que os trabalhadores portugueses são os que mais horas trabalham (8,71 horas diárias), mas a média total da OCDE é de 8 horas. Ora este facto prova que a falta de produtividade nacional é relativa e que é mais causa da falta de inovação e deficiências organizacionais.  Factores que estão ligados à falta de investimento na educação e formação empresarial.

Segundo Renato Miguel do Carmo e tal. (2010), os factores que contribuem para aumentar a taxa de pobreza na população portuguesa são a baixa escolaridade, o numero elevado de filhos, o desemprego, a monoparentalidade e viver só.
O aumento nacional da pobreza é estrutural, cuja solução passa por uma definição de políticas fiscais mais justas, imparcial redistribuição da riqueza, melhor educação e expectativas reais de criação de valor.
Estes dados sociológicos, e outros, mostram que as últimas decisões políticas vão agravar as condições das famílias potenciando um clima de conflito social grave.

Normalmente a mentira é curta mas esta já leva uma longa vida. Os mentirosos é que têm mudado.

A estabilidade depende de uma classe média forte que possa aumentar o consumo. Não conseguiremos isto se o crescimento económico não conduzir à criação de empregos decentes, nem se o crescimento recompensar a minoria dos mais favorecidos em detrimento dos números marginalizados” – frase dita por Dominique Strauss-Khan em 13/04 ao Diário Económico, ainda director do FMI.

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