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Pouco ou nada percebo de economia, mas....

Tenho algum conhecimento sobre teoria económica mas, pouco ou nada, percebo de economia. Segui o caminho errado! Desde o inicio do século passado que o mundo vive economicidade. Portanto desde há muitas décadas que o que os economistas dizem é que está certo. Escusamos nós, ou outros, de duvidar.
A economia como a conhecemos deu origem ao desenvolvimento mas criou grandes assimetrias entre países. Permitiu aumentar o bem-estar social mas dilatou o fosso entre ricos e pobres. Levou aos excedentes alimentares mas consente que milhões de seres humanos morram de fome.
È como se o mundo capitalista, num movimento de rotação produzisse um efeito gravitacional que sustenta apenas quem dele vive. Ao contrário da Terra em que a gravidade é cega, na sua evolução, a força centrífuga do capitalismo vai lançando para fora, lentamente, aqueles que não conseguem a integração no sistema, isto é, ganhar dinheiro suficiente para conseguirem manter as expectativas e ambições de bem-estar.  
Embora ao nível da Europa se tenha tentado manter o equilíbrio entre a teoria social e a teria económica, parece que a influência da Escola de Chicago – o sonho americano – tem varrido o mundo. Como dizia Tocqueville os americanos indagam a utilidade de tudo neste mundo apenas como resposta a esta única interrogação: que dinheiro renderá?
E todos nós temos dificuldade em imaginar outro tipo de sociedade por demais que surjam exemplos a comprovar que o sistema é corrupto e disfuncional. Todos somos seres económicos no dizer do pensamento económico convencional.
Ora, este modelo já demonstrou, mais do que uma vez, que as modificações que causa nos recursos e nas populações, acaba sempre por criar vazios que arrastam milhares de pessoas e sociedades para crises profundas. Foi o caso da Grande Depressão (1929/33), do Choque Petrolífero em 1973 e esta que se iniciou em 2008.
Mas, o que se torna irónico é que são aqueles que, potencialmente, acabarão por sofrer e pagar que continuam a manter no poder as lideranças e a alimentar esta ideologia neoliberal.
Vem este pensamento a propósito dos dois meses de governação do actual governo e da forma como a história económica e politica se reescreve com a mesma letra.
Politica: porque os políticos continuam a faltar aos compromissos que assumem nas campanhas eleitorais, continuam a promover os círculos de amigos influenciáveis e condutíveis, continuam a não ter carácter, continuam a demonstrar uma incapacidade para governar na tolerância e na concertação e, pior, continuam a privilegiar um interesse corporativo e não de interesse nacional.
Fazendo um paralelismo da política com futebol, diria que a percentagem última dos que votaram não deverá divergir muito dos que continuam a ir aos estádios arreigados da vontade de ver os adversários perderem (e só isso interessa). Os que não votaram já não querem saber do estádio para nada, que cada vez está mais vazio, e os jogadores (políticos) continuam a jogar como se todo o povo confiasse na táctica de jogo.
Económica: porque se continua a tirar aos mesmos, insiste-se que não há alternativa (a economia é uma ciência exacta!), continua-se a atribuir ao Estado a culpa de todo o mal e por isso a reduzir o acesso das pessoas àquelas dimensões (saúde, educação e justiça) que deveria ser o próprio Estado a proteger.
Keynes (1940) demonstrou que nem o capitalismo nem o liberalismo viveriam muito tempo um sem o outro. E foi com medidas socialistas que os salvou, o que não deixa de ser um paradoxo intrigante. Na altura houve um alargado consenso, desde os adeptos do New Deal aos teóricos alemães do “mercado social”, e foi unanimemente aceite a doutrina que defendia um governo colectivo responsável pelo estado da economia (Judt, 2011).
Agora, o Estado é o mal de todas as maleitas, o seu emagrecimento a cura para todos os males e já não pode assumir responsabilidades sociais com o bem público. O ciclo voltou em contraciclo. O Estado está endividado, as famílias também, são tempos de privatizar a qualquer custo. Os capitalistas neoliberais adeptos do mercado livre agradecem porque vão comprar em tempo de saldos.
A desintegração do sector público vai acabar com a nossa identidade colectiva e mais uma vez deixará de haver razões para nos envolvermos civicamente nas decisões públicas porque passarão a ser do foro privado. Transportes, electricidade, saúde, comunicação e o próprio espaço público. A história já nos mostrou isso com Margaret Thatcher ou Ronald Reagan.
Lamentavelmente temos uma esquerda que foi parida do cruzamento da social-democracia com o imperialismo soviético e que cada vez mais se vai habituando a sobreviver à indiferença dos cidadãos porque não consegue ela própria sobreviver sem a ambição do poder.
Pouco ou nada percebo de economia mas também não é preciso para ver que me andam a mentir há muito tempo.
“É uma ideia essencialmente repugnante, a de uma sociedade que se mantém unida apenas pelas relações e sensações despertadas pelo interesse pecuniário” – John Stuart Mill

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