Avançar para o conteúdo principal

Justa causa e despedimento

O Governo veio hoje com duas propostas de alteração ao conceito de justa causa no despedimento. A falta de produtividade e o não cumprimento de objectivos.

Como seria de esperar a esquerda parlamentar (incluo o PS ou não?) indignou-se e irá fazer uma “firme oposição” e um “fortíssimo combate”.
Prevê-se por parte dos sindicatos uma luta acérrima a este atentado. Bagão Félix diz que pode haver abusos por parte da entidade patronal. António Saraiva (CIP) diz que se alegra por se introduzir a produtividade (cá está ela!) no despedimento.

Por mim acho uma boa ideia. É uma forma de acabar com aqueles colaboradores com emprego que, para além de não produzirem, prejudicam a empresa.

Creio até que se deveria ir mais além.

A questão não é a introdução das duas propostas na legislação laboral mas o conteúdo em que tal inserção deve ser revestida. Se o trabalhador deve ser produtivo e cumprir os objectivos, a entidade patronal deverá ser obrigada a promover e facilitar acesso a condições objectivas para tal realização.
Ao trabalhador deverá ser prestada informação formal sobre o que a empresa entende por produtividade e quais os padrões utilizados para a avaliar. Deverá ser introduzida a noção de clima organizacional e de bem-estar na organização, assim como uma definição de competências individuais e organizacionais.
Ao colaborador exige-se cumprimento dos objectivos que lhes são vinculados, mas decididamente que esta gestão está já há muito enviesada para além do inicialmente proposto por Peter Druker. Ao que seria bom, e já que pode ser motivo para despedimento, que a entidade patronal fosse obrigada a negociar com o colaborador esses objectivos para que fossem mensuráveis, assim como avaliar resultados e implementar acções correctivas.

Deveria existir sempre um sistema de avaliação de desempenho claro e entendível por todos.

Aos colaboradores deveria ser permitido tomar parte das decisões de gestão que poderiam por em risco a continuidade da propria empresa.

Exigia-se comissões de trabalhadores menos politizadas e mais independentes. 

Não é para mim relevante a tomada de posição das partes envolvidas nem quero defender qualquer delas. Mas absurdo é a continuidade de posições estremadas em defesa de protagonismos individuais cujo resultado final é o prejuízo sempre dos mesmos.

Se com uma negociação aberta e ampla se poderia acabar os trabalhadores improdutivos, seria também uma excelente oportunidade para demonstrar a mediocridade de grande parte dos nossos gestores (digo, donos de empresas). Ficamos, como sempre, com o pensamento pequenino que nos tem caracterizado e com a angustia de que as nossas lideranças continuam a não entender que cada um deles é apenas uma peça do puzzle e não a caixa toda.

Comentários

Mensagens populares deste blogue

Erros na Avaliação de Desempenho

Estamos em final de ano o que significa que mais uma vez vamos ser avaliados no nosso desempenho anual. Aos avaliadores nunca é demais relembrar os erros (mais) comuns na Avaliação de Desempenho, situando as devidas adaptações de cada método em causa, de forma a tomar consciência que as distorções, mesmo que involuntárias, podem provocar a diminuição da objectividade e efeitos pretendidos com o processo. Aqui vão os erros mais comuns: Efeito de Halo/Horn – Tendência para alargar a todo o desempenho aspectos positivos ou negativos desse desempenho. O avaliador generaliza a todo o desempenho uma opinião favorável (Halo) ou desfavorável (Horn) de uma característica isolada ou comportamento especifico. Tendência Central – Tendência para atribuir nota média, evitando classificações baixas com receio de prejudicar ou elevadas com receio de se comprometer para o ano seguinte. Efeito de Recenticidade – Tendência para dar relevância a situações recentes que marcaram o desempe...

Pelo Vale da Ribeira do Mogo

08/11/2017 Percurso circular com uma extensão de 13,5Km (concelho de Alcobaça). Iniciei na Chiqueda Grande, junto à ponte sobre o Rio Alcoa, cuja nascente cársica fica um pouco mais acima e é uma das mais importantes da região pelo seu caudal extenso. Foi feito no sentido contrario aos ponteiros do relógio o que permitiu entrar logo no Vale e evitar uma subida bastante acentuada. Este Vale da Ribeira do Mogo situa-se no sopé da vertente oeste da Serra dos Candeeiros, atravessando a freguesia de Aljubarrota. É um percurso sinuoso, de fácil caminho e denso de vegetação, com predominância dos carvalhos, medronheiros e sobreiros Bastante húmido, mesmo nesta época que predomina a falta de chuva (bastante grave este ano). Aparentemente ao longo do trilho, este é acompanhado por uma levada natural (seca nesta altura) indiciando ter bastante água no inverno. O final deste Vale desemboca na Estrada Principal que vem do Carvalhal para Ataija de Cima, ju...

“Pobreza e exclusão social em Portugal: uma visão da Cáritas”

A pobreza tem sido dos fenómenos sociais mais estudados. Particularmente desde 1999 quando Amartya Sen publicou uma nova perspectiva sobre “desenvolvimento” (1) contrapondo as teorias tradicionais. Entendimento que veio a ser reforçado pelos estudos desenvolvidos por Deepa Narayan sobre a pobreza (2). A partir destes dois investigadores o fenómeno da pobreza deixou de ser entendido apenas como um conceito económico para passar a incorporar fatores sociais, políticos e de liberdade individual. Fundamental nesta defesa, importa reter a implicação que a condição de pobreza tem na limitação dos exercícios das diferentes liberdades e na tomada de decisão. Implicação que a neurociência ajudou a compreender. Esta semana saiu um novo estudo sobre a pobreza: “Pobreza e exclusão social em Portugal: uma visão da Cáritas” (4) . Nada de novo. Olhou para os indicadores e confirmou que o combate à pobreza em Portugal não registou progressos significativos na redução dos pobres. Dados da Pordata (2022...