Ontem o Presidente da Republica dirigiu-se aos portugueses no uso do período de reflexão.
O discurso (não o do Rei) durou 5:09m e, mais uma vez, foi monocordicamente proferido e politicamente correcto. Aliás demasiadamente correcto como é seu hábito.
Tenho dúvidas quanto ao efeito pretendido, até porque há passagem que, pessoalmente, acho lamentáveis e verdadeiramente ofensivas para a maioria dos portugueses, se assim hoje ao final do dia se vier a provar.
Senão vejamos:
“Os diferentes partidos tiveram a oportunidade de apresentar as suas ideias e as suas propostas” – é um facto. Tiveram pois! E foi isso que aconteceu? Saímos todos mais esclarecidos? Acho que não. Aliás o decurso desta campanha foi igual ao que nos habituaram já anteriormente, talvez apenas mais comedido nas ofensas. Tratou-se de uma campanha centrada na imagem dos líderes políticos e pouco focalizada no esclarecimento ou nas propostas. Desde as contradições de Sócrates (lembro-me da questão da TSU e da alteração do memorando da troika) às utopias do Passos (de) Coelho, como a constituição de um governo com apenas 10 ministérios (como se isso fosse possível face á implementação das medidas que vamos todos estar sujeitos), ao “dejá vu” das feiras e lares do Portas.
Mas, segundo o PR, toda esta falta de esclarecimento deve-se, como afirmou, “à comunicação social que utilizou o acessório”. Cá temos o bode expiatório da incompetência politica, das demagogias e manipulações e da incapacidade dos nossos lideres pensarem o País e de comunicarem com os portugueses.
Mas, de todo o mais grave do discurso, foi a forma como se dirigiu aos abstencionistas:
“Seria incompreensível a abstenção”;
“Na hora difícil se demitissem”;
“Se abdicarem de votar não têm depois autoridade para criticar as politicas públicas”;
“Só quem vota pode legitimamente exigir o melhor do próximo governo”;
“Abster-se é fugir do tempo decisivo das grandes responsabilidades. É não querer dar o seu contributo por um país melhor”.
Como cidadão português estou envergonhado com estas palavras.
Estas palavras, subconscientemente, invocam a ideia que, pelo menos a respeito do exercício do direito de voto (mas posso fazer uma interpretação extensiva da ideia), para o PR há uma divisão clara entre os portugueses, os bons são os que votam, os maus, os irresponsáveis não vão votar. Estas palavras são fracturantes, hipócritas e xenófobas. Voltámos aos discursos pré 25 Abril em que o Estado Novo era mestre na intenção de colocar portugueses a delatar portugueses.
Mais uma vez o PR mostrou que não está à altura de exercer o cargo. Se assim estivesse, não teria permitido sequer que houvesse eleições antecipadas e teria, perante tão clara incompetência e irresponsabilidade de Sócrates, demitido o governo e nomeado ele mesmo um governo provisório, responsável e independente.
Nas últimas eleições a taxa de abstenção em Portugal foi a maior da EU e atingiu a maioria dos portugueses. E o facto é que este PR está no cargo com muito menos votos do que isso.
A abstenção em Portugal é consequente de políticos incompetentes que apenas seguem uma visão de interesses e corporativismo partidário. E a isso, o PR não conseguiu mais uma vez fugir.
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