Desde o inicio do liberalismo económico, que as grandes decisões encontram-se na esfera, principalmente, de três áreas: a economia, a gestão e o direito. Efectivamente, a área das ciências humanas têm tido um papel secundário na evolução económica mundial, e é por essa razão que existe cada vez mais problemas sociais.
A ideia que as empresas, necessariamente, têm que estar dirigidas apenas para o lucro, é uma ideia cada vez mais obsoleta. Gary Hamel compara mesmo a gestão com o motor de combustão interna, isto é, uma tecnologia que deixou simplesmente de evoluir. Diz ele que se metêssemos um gestor dos anos 60 numa máquina do tempo e o transportássemos para o século XXI, este gestor concluiria que grande parte das decisões e procedimentos pouco tinham mudado em relação à sua geração.
Ora, os cientistas do comportamento, muitas vezes, dividem aquilo que fazemos em duas categorias. As tarefas algorítmicas e as tarefas heurísticas. As primeiras são aquelas em que seguimos uma serie de procedimentos bem definidos e que apenas conduz a uma solução. Nas segundas, não havendo algorítmico, temos que experimentar diversas soluções e escolher uma, processo que leva a um crescimento pessoal sustentado.
O que se passa é que, na nossa sociedade, por estarmos confinados a conceitos de gestão obsoletos, as tarefas continuam a ser preparadas num plano algorítmico no qual nos é apontado o caminho a seguir, apenas de acordo com a vontade de quem o aponta, sem espaço para a criatividade, a autonomia e o envolvimento individual e colectivo dos envolvidos.
Pior, é quando os economistas e gestores utilizam abusivamente conceitos da área das ciências humanas para manipular comportamentos, transformando concepções relativas em quadros de referência à sua imagem e interesses.
Por exemplo, muitas vezes se tem ouvido (inclusive de lideres políticos) – nós estamos do lado da solução e não do problema.
A questão é que para se chegar a uma solução, temos que perceber bem o problema. Fazer parte dele. Só assim se poderá evitar a sua repetição e achar a melhor solução. E é aqui que os traços de personalidade condicionam comportamentos e abordagens diferentes, dai o conceito ser relativo.
A utilização unidireccional da frase “nós estamos do lado da solução e não do problema”, quer dizer: não pensem que nós já pensámos.
Mas a melhor solução está na partilha de experiências, de ideias e de vontades. E esse é o medo das lideranças autocráticas e obsoletas com que vivemos, ainda, actualmente.
PS. A foto é do filme "Die Welle - A Onda". Um professor do ensino secundário encarrega os seus alunos de levarem a cabo uma experiência fora do comum, sobre como é viver num regime ditatorial. A experiência começa a atingir proporções inesperadas. A ver!
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