Avançar para o conteúdo principal

O que se passa?


Os tumultos de Londres e de outras cidades inglesas, à semelhança do que já aconteceu noutros países da Europa, têm feito sobressair por parte das entidades oficiais daquele País, tudo o que de hipócrita há na politica.
David Cameron ao dizer hoje que partes da sociedade estavam doentes, no seguimento ao pedido de delação feito por outro membro do governo, mostrou claramente que sofre do erro fundamental da atribuição.
Atribuir apenas à criminalidade o que se passa é de uma enorme irresponsabilidade. Tanto mais que se sabe, já há muito tempo, que o problema não é situacional mas sistémico.
Nenhum país da UE tem mais crianças pobres do que o Reino Unido e desde 1973 que a desigualdade nos vencimentos líquidos naquele território cresce mais do que em qualquer outro (exceptuando os EUA).
Entre 1977 e 2007, a maioria dos novos empregos situavam-se entre os extremos da massa salarial, o que provocou um colapso da mobilidade intergeracional.
As expectativas de vida actuais dos jovens ingleses, em melhorar as condições em que vivem os seus pais, são reduzidíssimas.
Um dos efeitos do agravamento das desigualdades sociais é o aumento da criminalidade. Isto está provado sociologicamente e acontece em qualquer país do mundo. Outros efeitos passam pela diminuição da esperança de vida, pelo desemprego estrutural, pela insegurança económica, pelo endividamento das famílias, pela ansiedade familiar, abandono do ensino, etc., sendo tanto mais relevantes quanto maior o fosso existentes entre ricos e pobres.
Como pode Cameron e os líderes mundiais compreender os movimentos de ruptura social se vivem longe dos problemas das populações e continuam a manter atitudes hipócritas e displicentes ignorando tudo o que se passa no espaço público.
O que dizer aos jovens que vivem sem expectativas de uma vida melhor e que lidam diariamente com pais desempregados ou empregados mas endividados.
Cá, tal como lá e em todo o mundo ocidental, o problema actual e que nasceu com a crise do subprime é sistémico e socialmente patológico. Atribuir apenas o mal a problemas financeiros e económicos é redundar na própria desregulação do mercado que fez apodrecer as sociedades por dentro.

Comentários

Mensagens populares deste blogue

Erros na Avaliação de Desempenho

Estamos em final de ano o que significa que mais uma vez vamos ser avaliados no nosso desempenho anual. Aos avaliadores nunca é demais relembrar os erros (mais) comuns na Avaliação de Desempenho, situando as devidas adaptações de cada método em causa, de forma a tomar consciência que as distorções, mesmo que involuntárias, podem provocar a diminuição da objectividade e efeitos pretendidos com o processo. Aqui vão os erros mais comuns: Efeito de Halo/Horn – Tendência para alargar a todo o desempenho aspectos positivos ou negativos desse desempenho. O avaliador generaliza a todo o desempenho uma opinião favorável (Halo) ou desfavorável (Horn) de uma característica isolada ou comportamento especifico. Tendência Central – Tendência para atribuir nota média, evitando classificações baixas com receio de prejudicar ou elevadas com receio de se comprometer para o ano seguinte. Efeito de Recenticidade – Tendência para dar relevância a situações recentes que marcaram o desempe...

Pelo Vale da Ribeira do Mogo

08/11/2017 Percurso circular com uma extensão de 13,5Km (concelho de Alcobaça). Iniciei na Chiqueda Grande, junto à ponte sobre o Rio Alcoa, cuja nascente cársica fica um pouco mais acima e é uma das mais importantes da região pelo seu caudal extenso. Foi feito no sentido contrario aos ponteiros do relógio o que permitiu entrar logo no Vale e evitar uma subida bastante acentuada. Este Vale da Ribeira do Mogo situa-se no sopé da vertente oeste da Serra dos Candeeiros, atravessando a freguesia de Aljubarrota. É um percurso sinuoso, de fácil caminho e denso de vegetação, com predominância dos carvalhos, medronheiros e sobreiros Bastante húmido, mesmo nesta época que predomina a falta de chuva (bastante grave este ano). Aparentemente ao longo do trilho, este é acompanhado por uma levada natural (seca nesta altura) indiciando ter bastante água no inverno. O final deste Vale desemboca na Estrada Principal que vem do Carvalhal para Ataija de Cima, ju...

“Pobreza e exclusão social em Portugal: uma visão da Cáritas”

A pobreza tem sido dos fenómenos sociais mais estudados. Particularmente desde 1999 quando Amartya Sen publicou uma nova perspectiva sobre “desenvolvimento” (1) contrapondo as teorias tradicionais. Entendimento que veio a ser reforçado pelos estudos desenvolvidos por Deepa Narayan sobre a pobreza (2). A partir destes dois investigadores o fenómeno da pobreza deixou de ser entendido apenas como um conceito económico para passar a incorporar fatores sociais, políticos e de liberdade individual. Fundamental nesta defesa, importa reter a implicação que a condição de pobreza tem na limitação dos exercícios das diferentes liberdades e na tomada de decisão. Implicação que a neurociência ajudou a compreender. Esta semana saiu um novo estudo sobre a pobreza: “Pobreza e exclusão social em Portugal: uma visão da Cáritas” (4) . Nada de novo. Olhou para os indicadores e confirmou que o combate à pobreza em Portugal não registou progressos significativos na redução dos pobres. Dados da Pordata (2022...