Em 03/11/2008, já nacionalizado, o BPN abriu as portas com dois administradores da CGD. Assim de um momento para o outro, a primeira nacionalização depois do 25 de Abril e para bem dos depositantes. Afinal, a grave situação do BPN tinha a ver com perdas avultadas de licitude criminosa.
Fundado em 1993, em pleno governo de Cavaco Silva, viria a beneficiar dos depósitos de milhares de euros vindos dos fundos europeus de desenvolvimento.
Vejamos as coincidências: Abdool Vakil foi accionista e administrador do BPN e é também amigo de Cavaco de longa data e foi membro da comissão de honra da sua candidatura; Arlindo Carvalho foi ministro da Saúde do terceiro governo de Cavaco e também accionista da SLN tendo sido suspeito de negócios fictícios no caso BPN; Daniel Sanches, que foi director do SIS a convite de Dias Loureiro e mais tarde ministro da Administração Interna de Santana Lopes, foi também administrador de uma empresa do grupo SLN; Dias Loureiro, ex-administrador executivo do BPN e suspeito de ter lesado o banco em mais de 40 milhões de euros, foi ministro da Administração Interna de Cavaco e foi por este nomeado para ser Conselheiro de Estado; Joaquim Coimbra, grande financiador do grupo SLN, participou no financiamento da primeira campanha de Cavaco; Miguel Cadilhe, presidente do BPN após a saída de Oliveira e Costa, foi ministro das Finanças de Cavaco; e, por fim, Rui Machete, que também esteve no conselho superior do BPN, foi dirigente do PSD. Só isto no topo da pirâmide.
O BPN detido pela SLN, que nunca foi cotada em bolsa, já andava a ser investigado há mais de um ano pelo Banco de Portugal de Victor Constâncio. O Banco de Portugal nunca notou nada, ou se notou calou-se, mas defendeu-se da maneira mais hipócrita possível: sonegação de informação por parte de BPN e SLN. O BPN foi nacionalizado. A SLN não. Victor Constâncio foi premiado com o lugar de vice-presidente no BCE.
Oliveira e Costa é preso. Alguém tinha de o ser e ele era a cara mais visível.
Teixeira dos Santos, informa os cidadãos que tinha sido confrontado com uma proposta de recuperação do banco, mas demasiado pesada para os contribuintes e que era aos accionistas que caberiam assumir as perdas. Mentiu com quantos dentes tinha na boca.
A 11/2008 Aníbal Cavaco Silva promulga a nacionalização do BPN, argumentando que teve em conta a protecção dos depositantes e a estabilidade do sistema financeiro. Em Novembro 2008 publica no site da Presidência da Republica uma nota oficial a demarcar-se de qualquer negócio com o BPN. Afinal até vendeu barato as acções que tinha comprado em 04/2001 ao preço unitário de 1€ ao próprio Oliveira e Costa que lhe fez esse favor. Podia ter recebido 289.789€ se vende-se a 2,75€, mas como vendeu a 2,40€ só recebeu 252.907€. Sem impostos, mas a culpa não é dele, nem da filha, já que ainda hoje isso não se aplica.
Rui Machete e Presidente do Conselho Superior da SLN disse que a nacionalização poderia ter sido evitada. A Comissão Europeia (Durão Barroso) também disse que tinha sido um erro e que não haveria contágio ao sistema bancário. Meira Fernandes, administrador da SLN disse que as imparidades de 1,8 milhões se deveram à nacionalização.
O cerco ao Sócrates está montado. A partir daqui já não se fala nos depositantes.
No inicio de 2009 foi criada uma Comissão Parlamentar de Inquérito. Directores e administradores, governadores, accionistas, advogados, muitos foram os ouvidos. Falou-se das contradições entre o testemunho de Dias Loureiro (ex-ministro de Cavaco) e António Marta (ex-vice-governador do BP). Dias Loureiro, depois de algumas birras, finalmente sai do Conselho de Estado. Como é normal neste Pais, nunca mais se ouviu falar dele. Ele agradece.
Passados quase dois anos, em Janeiro de 2011, já em campanha do segundo mandato, Cavaco atacou fortemente a gestão do BPN (ou seria CGD presidida pelo seu ex-ministro Faria de Oliveira?). Francisco Bandeira, que recebia dois vencimentos, um (63 mil €) como presidente do BPN nacionalizado e outro (1,2 mil €) como vice-presidente da CGD, acusou Cavaco de eleitoralismo (nada mais cómico). Este senhor ficou famoso pela célebre frase: «A acumulação efectiva de funções não é fácil. Exige um grande empenhamento e um enorme sacrifício pessoal. Os dias de trabalho são, por norma, sete e as férias, quando as há, são curtas e sempre com um computador de trabalho». Pudera!
Em final de 2009 foram falhadas duas tentativas de reprivatização do BPN. Apesar do BIC se ter mostrado interessado ninguém acabou por aparecer a concurso. O Governo injectou mais 500 milhões no banco através de um aumento do capital social, agravando o défice orçamental, e retirou a gestão à CGD.
Finalmente o Estado, na defesa dos contribuintes, livrou-se do BPN. Deixou de haver risco sistémico e estamos todos mais descansados. Bastou um mês, o acordo com a troika (sempre eles) e a rebuscagem pelo novo governo da proposta de reprivatização do anterior, e já está.
O BIC pagou 40 milhões e escolheu os melhores: balcões, funcionários e créditos. Tudo carne do lombo. O Estado fica com o pior e terá que reforçar em mais 550 milhões para assegurar o capital mínimo e pagar as indemnizações dos 750 despedimentos (da base da pirâmide, claro! e já com as novas indemnizações aprovadas). Será com certeza o melhor negócio do ano, tem o rosto de Mira Amaral (também um barão do PSD) e o poder de Angola onde recentemente esteve o nosso ministro Portas.
Os accionistas saíram impunes, o dinheiro foi parar aos bolsos de alguém, os colaboradores do BPN encostados à parede e nós a pagar novamente.
As pontas estão unidas e o círculo político constituído.
Estão baralhados? Não faz mal. Quem paga não necessita de saber toda a verdade e depois no final do ano já ninguém se lembra.
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