António Pinto Leite, presidente
da ACEG (Associação Cristã de Empresários e Gestores), afirmou recentemente que
o amor ao próximo deve ser um critério de gestão.
E diz mais, que esse critério
implica que se deve usar o despedimento apenas como último recurso e que se
deve pagar o salário mínimo mais elevado possível de forma a retirar da
pobreza, todos aqueles que integram a comunidade empresarial.
Concebendo esta ideia como um
conceito operacional, significa que se deverá tratar os colaboradores, os
fornecedores, clientes e todo o ambiente da empresa (externo e interno) como o
gestor gostaria que o tratassem a ele.
Este conceito não é novo, e não é
estranho, vindo de uma associação cristã. A obra de Cristo é pois central a
esta mensagem cujo objectivo é a aproximação do mundo egocêntrico e déspota dos
negócios aos ideais da Igreja.
A lógica de APL é: “o amor como
critério de gestão faz pessoas felizes, pessoas felizes fazem empresas
produtivas, empresas produtivas fazem uma economia competitiva e uma economia
competitiva é a base de uma sociedade justa.”
Confesso que fiquei
desconcertado. Peguei no dicionário para verificar o conceito de amor:
“sentimento que nos impele para o objecto dos nossos desejos”, e: porDeus: por caridade. (Dicionário de Lingua Portuguesa da Porto
Editora – 8ª edição revista e actualizada).
Percebi então que as palavras
objecto e caridade estavam na origem do meu desconcerto.
Nada tenho contra os crentes, mas
a palavra amor é perigosa no contexto, até porque existem diversos estilos de
amor.
Numa linguagem comum, a palavra
amor poderá ter dois sentidos: designar um estado emocional curto ou uma
disposição continua para experienciar esse estado, e se dentro da psicologia
social tem havido dificuldade em definir o amor, como aliás todos os
comportamentos humanos complexos, o que não será num contexto empresarial.
Talvez olhando para o diagrama do
amor (adaptado de Shaver et al., 1987) se faça melhor a integração:
E se a isso considerarmos a
abordagem clássica em que se vê o amor como uma troca de recompensas e de
custos, melhor compreenderemos a mensagem.
Por mim que não sou crente, e
para evitar confusões semânticas, prefiro a palavra ética na relação laboral,
tanto da comunidade empresarial como na comunidade trabalhadora.
E, para não cair num radicalismo
marxista, respeito e coresponsabilização.
Afinal o universo não anda sem os
dois.
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