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O que não nos mata torna-nos mais fortes

Hoje, num daqueles azulejos tradicionais, li a seguinte frase: “Quem vive com a sua sorte, será feliz até à morte”.

Hoje, tanto como antes de 74 por cá, a mensagem da classe política continua a apontar o caminho da resignação com a “sorte” que, não nos tendo calhado por sorte, nos foi viciada e corruptamente sorteada.

A frase tem uma documentada contemporaneidade.

Recordo-me uma outra que em determinada altura da minha vida: “ a única forma de lutar contra eles é sermos profissionalmente irrepreensíveis”. Também ela sem tempo.

Hoje estamos condicionados pelo medo de falhar, estigmatizados sob o problema do desemprego e de medidas que sacrificam a nossa identidade.
Nesta Europa, que caminha a passos largos para o fim do euro tal como o conhecemos hoje, continua-se a separar os bons dos maus alunos num julgamento politicamente representativo de quem já só pensa em circuito fechado sob a apologia do sucesso.

A OIT lançou o desafio: nos próximos dois anos só vão ser criados metade dos empregos necessários, prevendo-se grandes tumultos sociais, principalmente na Europa Ocidental e no mundo Árabe. Portugal encontra-se entre os 10 países em maior risco.
O medo vai assim servir tanto empregados como desempregados num contexto social em que a intolerância ao fracasso faz parte da nossa genética histórica. Esperemos que isso não afecte a nossa capacidade de criar e inovar, precisamente campos onde se apela á experimentação e ao erro.

Contrariamente à Europa, nos EUA já há muito tempo que se percebeu que a inovação deverá andar de mãos dadas com o fracasso.
Como dizia Nietzsche, o que não nos mata torna-nos mais fortes.  A ideia não é só aprender com os erros mas também dar-lhes importância pois sem se correr o risco de falhar nada de novo poderá acontecer.
Seguindo Schoemaker:  “a cultura da performance está num conflito profundo com a cultura da aprendizagem”. A crise, cúmplice à cultura do sucesso, estrangulou a inovação deixando toda a gente com medo de errar e vir a ser penalizado com isso.

Á semelhança do que se passa nas empresas, quanto mais se experiencia, mais probabilidades existe de se chegar ao sucesso. Será por isso que a Grécia optou por ir a referendo? Provavelmente, conforme Tom Kelly expressou, esta tentativa já deveria ter sido rapidamente sufragada para que o sucesso tivesse chegado mais cedo também.

Baba Shiv, docente de Marketing, num ensaio publicado em Stanford, defende que a necessidade é mãe da invenção e que uma boa forma de obrigar os colaboradores de uma empresa a descobrirem novas soluções, é cortar-lhes os orçamentos, estimulando-os a inovarem. Esta abordagem do desespero não é a única, sendo a inspiração também uma boa instigação da inovação.
Shiv defende dois tipos de estrutura mental para distinguir o fracasso. O Tipo 1, indivíduos para quem errar é uma vergonha e são percorridos por um medo abusivo de cometer erros e os de Tipo 2, destemidos e oportunos, para quem é uma vergonha sentarem-se quietas enquanto outras têm ideias.
As pessoas do Tipo 1, maioritárias, são as que actualmente caracterizam as organizações.

Na Europa, ainda fortemente sob a influência racionalistica Kantiana, o fracasso ou falência são sinónimos de falhanço sem perdão e esta intolerância irá (já está) a representar um forte obstáculo à aceitação e desenvolvimento de novas abordagens.
Na verdade, para aqueles que elegem o erro como aprendizagem, os fracassos só o são se fracassarmos em aprender com eles. Não é o caso dos líderes europeus que, com orçamentos vastos, não têm sabido retirar lições dos seus fracassos.

“De tão semelhantes, nossas feições serão reflexo daquilo que nos enoja.
Se a indignação for seletiva,
Descobriremos que não passamos de hipócritas.”



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