“A crise é uma coisa terrível para ser desperdiçada” – a frase é de Paul Romer.
Os indicadores actuais globais são claros quando à pertinência da afirmação. Que ninguém tenha duvidas que o futuro não será um prolongamento do passado. A grave crise do dollar e os ataques especulativos ao euro irão criar clivagens globais que acentuarão as desigualdades e o aumento da pobreza. A luta política pela paridade das moedas e pela competitividade das exportações para mercados externos irá levar à redução do comércio internacional e a prováveis aumentos das matérias-primas.
É neste contexto instável que se torna cada vez mais relevante a questão da ética e da responsabilidade social, tanto ao nível do indivíduo como das empresas, as quais estão cada vez mais convencidas que é capital para a sua sobrevivência a integração de uma filantropia organizacional e estratégica, implicando a adopção de comportamentos comprometidos e transparentes.
Estes comportamentos traduzem-se na sua dimensão externa: a um nível ecológico perante o ambiente; a nível social facilitando a inclusão e promovendo a coesão social e o bem-estar; e a nível económico contribuindo para o desenvolvimento sustentado.
Mas também na sua dimensão interna perante os seus trabalhadores, numa perspectiva de desenvolvimento de competências, de incentivo á criatividade e inovação, no aumento da motivação através de envolvimento nas decisões.
Este conceito de “virtude organizacional”, no sentido que as empresas adoptam estratégias (internas e externas) de responsabilidade social, foi trazido para a gestão pela psicologia positiva e consiste num conjunto de atributos que «incentivam os colaboradores a uma melhor cidadania, responsabilidade, apoio, altruísmo, civilidade, moderação, tolerância e comportamento profissional ético» (Seligman e Csikszentmihalyi, 2000, citados por Manz e tal., 2008).
Segundo o modelo de responsabilidade social defendido por J. Story e P.Neves, existem quatro modelos de gestão: os irresponsáveis (as empresas não implementam actividades de responsabilidade social, nem por estratégia nem por filantropia, perdendo oportunidades de melhorar o seu negocio); os ingénuos (as empresa têm actividades de responsabilidade social mas apenas por filantropia e não ligadas à sua estratégia de negócio); os maquiavélicos (as empresa têm programas de responsabilidade social mas apenas como forma de marketing) e os pioneiros (empresas que estão verdadeiramente preocupadas com a sociedade e com os seus colaboradores e desenvolvem actividades de responsabilidade social associadas à sua estratégia de negocio).
Esta ideia, defendida inicialmente por Michael Porter e Mark Kramer, coloca-nos num novo paradigma de gestão no qual o sucesso empresarial passa pelo desenvolvimento implicado da sociedade e vice-versa, como parceiros interdependentes e não como entidades separadas. Isto é, as empresas para terem sucesso necessitam de clientes informados, e clientes informados necessitam de empresas desenvolvidas e eticamente responsáveis.
No entanto o leitmotiv das estratégias seguidas nos últimos tempos não tem sido de acordo com esta visão, parecendo que a chave para o sucesso da competitividade é a destruição de postos de trabalho.
Se por um lado é imperativo alterar a lei laboral, por outro vai certamente ser uma excelente oportunidade para aqueles gestores e donos de empresas que não vêem para além do que a sua vista alcanç.
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