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Mensagens

A mostrar mensagens de 2011

Identificamo-nos com o trabalho?

Quantos de nós gosta do que profissionalmente faz?   Ou melhor, o que fazemos no trabalho concorre para o sentido do eu auto-biográfico? As razões porque existem pessoas, profissionalmente, mais motivadas do que outras é complexo mas o que verdadeiramente nos motiva é o facto de nos identificarmos com aquilo que fazemos. A um nível intuitivo, grande parte das pessoas compreende a inter-relação entre a sua identidade e o trabalho. Por alguma razão, quando crianças, ambicionávamos ter esta ou aquela profissão. O emprego, para além de ser uma formidável forma de ganhar dinheiro para pagar as contas, tem que fazer sentido anuindo significado às nossas vidas, e se estiver ligado à nossa auto-imagem pode muito bem ser um forte impulsionador da motivação levando-nos a um esforço muito maior. Era bom que assim fosse sempre para bem do nosso saudável estar social e mental. Mas então porque razão no actual modelo económico existe uma cada vez maior sensação de fadiga e desmotivação

Vamos?

Martins da Cruz, antigo ministro do PS, disse hoje que os jovens deveriam emigrar. A primeira pedra atirada aos portugueses sobre o assunto veio de Miguel Mestre, seguido de Passos Coelho e agora Martins da Cruz. O assunto tem merecido as maiores indignações da esquerda e dos sindicatos que vêm nisto uma oportunidade de marcar pontos políticos. Quem me conhece sabe que não ligo bem com este PM. Assusta-me a sua ideologia, marcadamente neoliberal, a verdade profética discursiva que vai mudando e a sua convicção que os portugueses precisam é de ser comandados pela força. Mas há uma característica que o tem diferenciado dos restantes políticos. É a capacidade para dizer algumas verdades ainda que cruas e duras. O assunto da emigração é um deles e é ofensivo o aproveitamento político de quem já esqueceu só porque mudou de campo. Quem tem filhos em idade universitária sabe perfeitamente que esse é o caminho. Já o era, só que ninguém nos tinha dito na cara. Lembram-se de Mi

O mesmo Cavaco em cinco pacotes

O nosso Presidente disse a um jornal holandês que estava preocupado com a coesão social. Eu também estou. Muitos portugueses estão. O problema é quando a hipocrisia de estado ultrapassa a indignação da sociedade. Enquanto os portugueses vão demonstrando organizadamente (por enquanto) esse descontentamento o Presidente fala, num discurso não assumido e, aparentemente, ética e materialmente impoluto. Como diz Daniel Oliveira , este Cavaco, sem chama, é o símbolo mais evidente de tantos anos perdidos.

A realidade não é o que parece

As ideias que temos hoje das nossas lideranças é que são pessoas que gerem bem toda a informação, que se movem bem socialmente, boas redes informais, que orientam as suas acções pelas leituras de superabundância de informação e de estudo de casos que se adaptam aos seus objectivos pessoais. Aparentam ter ideias inatas mas que são tiradas de livros de gestão com títulos inteligentes. Desenvolvem grandes competências narcisistas e têm a mão de deus por baixo. Cheiram a poder autoritário e, só em casos identificados, são legitimados e reconhecidos por quem deles dependem. Sofrem de uma doença que se tornou estandarte nacional: reunite. Onde se auto promovem como a luz ao fundo do túnel, em monólogos improdutivos na explanação de ideias aparentemente inatas. Os benefícios raramente vão além dos que são publicitados e raramente promovem a sustentabilidade no longo prazo. O que eles ignoram é que existe uma prática muito simples de liderança. Sair do escritório para observa

Ideias sobre negociação

Todos os dias negociamos e fazemos escolhas. Porque necessitamos de ajuda, porque temos filhos, porque competimos socialmente, porque trabalhamos em equipa, etc. A necessidade de tomar decisões pode surgir a qualquer momento e em qualquer lugar. Estamos em permanente negociação. Ainda que haja pessoas que estão mais preparadas do que outras, todas sentem que chegar bem ao fim de uma negociação é vital para o seu bem-estar, tranquilidade, sanidade e produtividade. A negociação pode ocorrer a diversos planos e tem a ver com a dimensão do problema, do espaço e do contexto o que pode exigir mais preparação, experiência e competências. Ainda assim, saber como negociar é muito importante para uma tomada de decisão que conduza à paz de espírito. Apesar de as negociações serem diferentes nos diferentes contextos, desde que exista um bom plano de “jogo”, se esteja treinado, informado e preparado, em qualquer circunstância se negociará. E não se esqueçam que tudo o que existe nes

Erros na Avaliação de Desempenho

Estamos em final de ano o que significa que mais uma vez vamos ser avaliados no nosso desempenho anual. Aos avaliadores nunca é demais relembrar os erros (mais) comuns na Avaliação de Desempenho, situando as devidas adaptações de cada método em causa, de forma a tomar consciência que as distorções, mesmo que involuntárias, podem provocar a diminuição da objectividade e efeitos pretendidos com o processo. Aqui vão os erros mais comuns: Efeito de Halo/Horn – Tendência para alargar a todo o desempenho aspectos positivos ou negativos desse desempenho. O avaliador generaliza a todo o desempenho uma opinião favorável (Halo) ou desfavorável (Horn) de uma característica isolada ou comportamento especifico. Tendência Central – Tendência para atribuir nota média, evitando classificações baixas com receio de prejudicar ou elevadas com receio de se comprometer para o ano seguinte. Efeito de Recenticidade – Tendência para dar relevância a situações recentes que marcaram o desempe

Em quem confiamos?

Como se sabe, Portugal é um dos países do mundo onde existe maior desigualdade social e de rendimentos. Esta realidade tem vindo a criar problemas estruturais graves e tem sido a principal razão da nossa localização entre os países de  risco, não só ao nível da saúde e bem-estar, como de outros indicadores críticos para a recuperação, entre eles a produtividade. Não existem dúvidas que estas duas dimensões, desigualdade e produtividade, encontram-se correlacionadas, embora não num nexo de causalidade, pelo menos num plano de relacionamento e determinação. Um dos indicadores que condiciona esta relação é o nível de confiança social. Foram efectuados diversos estudos a nível europeu e mundial que permitiram efectuar comparações de valores entre os países estudados. Em amostras aleatórias de população era pedido que respondessem à pergunta: “A maior parte das pessoas são de confiança?”. Como se pode verificar no gráfico, Portugal é o país onde existe um menor nível de confiança. Só cerc

Livraria 107

Ontem fui à última tertúlia literária desta livraria que encerrou as suas portas definitivamente. Morreu mais um pedaço de cultura em Portugal. Obrigado mais uma vez á Isabel Castanheira que, desta vez nos permitiu estar à conversa com o António Barreto. Não pude de deixar de ficar emocionado e encantado. Aqui fica o poema do Pedro Mexia, por ela declamado: Pó   Nas estantes os livros ficam (até se dispersarem ou desfazerem) enquanto tudo passa. O pó acumula-se e depois de limpo torna a acumular-se no cimo das lombadas. Quando a cidade está suja (obras, carros, poeiras) o pó é mais negro e por vezes espesso. Os livros ficam, valem mais que tudo, mas apesar do amor (amor das coisas mudas que sussurram) e do cuidado doméstico fica sempre, em baixo, do lado oposto à lombada, uma pequena marca negra do pó nas páginas. A marca faz parte dos livros. Estão marcados. Nós também. Pedro Mexia, in "Duplo Império

Precisa-se de um novo John Locke

Hoje, alguém me disse: “parece que isto está, lentamente, a desmoronar-se!” De facto, tudo parece inclinar-se na vertigem de um caminho que teima em se agravar mas onde ainda vamos mantendo um equilíbrio precário. A sensação é que as lideranças se anulam, as estratégias se desusam e as acções se esvaziam num tempo perdido e de difícil recuperação. E o trilho contínua inclinado na direcção do abismo apesar das mensagens traiçoeiramente optimistas, vazias e falazes. Para quem contacta diariamente com pessoas e empresas, a sensação é que ainda ninguém interiorizou as forçadas mudanças que decorrem e que se agravarão no futuro já ali. Se bem repararmos, até na Europa, não tem existido hiper-vigilância quanto aos efeitos negativos da economia nos Estados, organizações, empresas e pessoas faltando planos estratégicos com acções de antecipação bem definidas e claras. Quase que se poderá fazer um paralelismo entre a inércia adaptativa do eixo franco-alemão: vamos ver se

Evolução dos rendimentos mais elevados em Portugal

Este gráfico representa a evolução dos 10% dos rendimentos mais elevados em Portugal desde o 25 de Abril até 2005, comparando-os com os mesmos 10% com Espanha e França. Na década de 70 praticamente não houve crescimento, condicionado pela revolução de Abril, as nacionalizações e as condições internacionais menos favoráveis. A partir de 80, começou um período de crescimento considerável devido às privatizações, à adesão à UE em 1986 e às alterações das politicas fiscais e monetárias. Em 1950 o PIB per capita em Portugal era 15% menor do quer o de Espanha e 60% menor do que o de França. Em 2005 o PIB per capita em Portugal é cerca de 20% menor do que o de Espanha e cerca de 30-35% menor do que o de França. Entre 1983 e 1992 existe uma crescente desigualdade de rendimentos onde se verifica uma evolução mais significativa dos rendimentos mais elevados e um aumento da dispersão entre estes e os mais baixos. Segundo os autores, entre 1930 e 1940 havia muito mais concentração

Banco de Portugal e literacia financeira

A semana passada o Banco de Portugal divulgou os resultados nacionais à literacia financeira da população portuguesa. O estudo, efectuado por inquérito presencial, teve uma amostra de 2000 entrevistados com idade igual ou superior a 16 anos. Margem de erro de 2,2% para uma probabilidade de 95%. As dimensões analisadas e síntese dos resultados  foram as seguintes: Inclusão financeira (a conta bancária como factor de integração social e também um indicador utilizado na comparação do desenvolvimento económico internacional) : Cerca de 11% da população não tem conta bancária. Destes, 10% são trabalhadores por conta de outrem e mais de metade tem entre 16/24 anos e acima de 70 anos. Dos que têm conta, 29% não tem outros produtos financeiros para além do deposito à ordem. Estes valores estão em média com os restantes da OCDE. Os produtos bancários mais comuns são: Seguros (37%); Cartões de Crédito (32%); Depósitos a Prazo (31%); Crédito Habitação (26%) e Descoberto bancári

A estruturalidade do nosso desemprego (*) e as medidas não curativas

A crise iniciada em 2008 trouxe para o espaço de discussão pública diversos conceitos a que não estávamos habituados.  De forma geral, o problema financeiro tem sido central no combate e adopção de medidas que visam fundamentalmente a diminuição do défice público e do endividamento externo e cujos efeitos se adivinham bastante negativos para o crescimento da nossa economia. Este tipo de curativo esbarra num dos problemas mais sérios da nossa economia: o desemprego que desde há dez anos tem vindo a aumentar, de forma gradual até 2008, mas agravando-se nos últimos 3 anos.  Entre o 3º/T de 2008 e o período homólogo de 2010, o número de desempregados (Fonte do INE a partir de uma amostra representativa) aumentou 40,5%, sendo esta a consequência mais relevante da crise financeira, factor determinante na capacidade de gerar riqueza e multiplicador no risco de pobreza de uma sociedade. Esta dimensão é reveladora de alguns dos principais problemas que se colocam à nossa economi