Como se sabe, Portugal é um dos países do mundo onde existe maior desigualdade social e de rendimentos.
Esta realidade tem vindo a criar problemas estruturais graves e tem sido a principal razão da nossa localização entre os países de risco, não só ao nível da saúde e bem-estar, como de outros indicadores críticos para a recuperação, entre eles a produtividade.
Não existem dúvidas que estas duas dimensões, desigualdade e produtividade, encontram-se correlacionadas, embora não num nexo de causalidade, pelo menos num plano de relacionamento e determinação.
Um dos indicadores que condiciona esta relação é o nível de confiança social.
Foram efectuados diversos estudos a nível europeu e mundial que permitiram efectuar comparações de valores entre os países estudados. Em amostras aleatórias de população era pedido que respondessem à pergunta: “A maior parte das pessoas são de confiança?”.
Como se pode verificar no gráfico, Portugal é o país onde existe um menor nível de confiança. Só cerca de 10% da população acredita que se pode confiar nos outros (triste cenário).
Do gráfico retira-se também a conclusão que, quanto menos desigualdade maior os níveis de confiança.
Como se pode concluir a socialização nos diversos países é experienciada de formas diferentes.
Recordo-me de uma viagem que fiz à Croácia onde as esplanadas tinham cobertores para as pessoas estarem confortáveis enquanto estavam à conversa. Impossível por cá.
Vivemos pois num país onde 90% da população desconfia dos outros, isto é, onde o capital social é pouco relevante e que isso afecta negativamente o bem-estar das pessoas e da sociedade civil.
Fazendo um exercício de transposição desta realidade para o ambiente de trabalho, facilmente se pode concluir porque o nosso nível de produtividade é das mais baixas. Como se pode trabalhar num ambiente de missão se o nível de desconfiança é elevado? Estado que subsiste tanto nas relações profissionais verticais como horizontais, o que leva a um ambiente narcisista e cheio de obstáculos.
Estudos têm mostrado que as pessoas que confiam nos outros são mais optimistas e possuem um forte sentimento de controlo das suas vidas. Assim como a desigualdade de rendimentos é o factor com maior impacto no nível de confiança, mais ainda do que o desemprego ou o crescimento económico.
Conclusivo também é que as mudanças na desigualdade e na confiança acontecem em simultâneo ao longo dos anos e que é a desigualdade que prejudica a confiança e não o contrário.
A confiança leva à cooperação e está fortemente alicerçada na educação parental, pelo que as politicas educacionais são pilares estruturantes na capacidade do País formar adultos confiáveis.
Altos níveis de confiança significam que as pessoas estão menos preocupadas entendendo a relação com os outros numa base de solidariedade e não numa de avaliação comparativa que corrompe as relações sociais.
Quanto tempo mais vamos demorar a perceber isto?
(*) Gráfico retirado do livro “O Espirito da igualdade” de Richard Wilkinson e Kate Pichett
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