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Identificamo-nos com o trabalho?


Quantos de nós gosta do que profissionalmente faz?   Ou melhor, o que fazemos no trabalho concorre para o sentido do eu auto-biográfico?
As razões porque existem pessoas, profissionalmente, mais motivadas do que outras é complexo mas o que verdadeiramente nos motiva é o facto de nos identificarmos com aquilo que fazemos. A um nível intuitivo, grande parte das pessoas compreende a inter-relação entre a sua identidade e o trabalho. Por alguma razão, quando crianças, ambicionávamos ter esta ou aquela profissão.

O emprego, para além de ser uma formidável forma de ganhar dinheiro para pagar as contas, tem que fazer sentido anuindo significado às nossas vidas, e se estiver ligado à nossa auto-imagem pode muito bem ser um forte impulsionador da motivação levando-nos a um esforço muito maior. Era bom que assim fosse sempre para bem do nosso saudável estar social e mental.

Mas então porque razão no actual modelo económico existe uma cada vez maior sensação de fadiga e desmotivação?

O problema é que o actual sistema económico tem vindo a reduzir a relação laboral a uma mera transacção monetária e a relevar o valor intrínseco do capital humano.
Estudos recentes apontam para que o efeito do sentido sobre o trabalho bem como o efeito de o eliminar são bastantes mais poderosos do que o valor monetário.
É um facto que todos nós necessitamos de incentivos financeiros para conferir alguma motivação ao nosso desempenho. Mas o reconhecimento e ou a desvalorização do nosso esforço tem muito mais impacto nesse desempenho.

O conceito económico básico é que as pessoas irão sempre optar pelo mínimo esforço para obter o máximo resultado. De certa forma é verdade. Se cada um de nós pudesse ganhar o dobro e trabalhar menos, provavelmente, aceitaríamos sem hesitar. E é por isso que nos indignamos quando o governo nos quer por a trabalhar mais meia hora sem remuneração. Mas só aparentemente é assim.

Desde os anos 60 que este conceito foi posto em causa. Diversos estudos provam que quando nos identificamos com o trabalho experimentamos um nível superior de satisfação e motivação, o que nos leva a um esforço maior para obter o mesmo resultado que obteríamos com menos esforço. É o prazer que se retira e a alegria que implementamos naquilo que gostamos de fazer que verdadeiramente importa.
 É por isso que a produtividade em Portugal tem muito menos a ver com os trabalhadores do que o que nos querem fazer pensar. O facto é que, por uma qualquer razão, poucos são os que se identificam com a profissão que têm.

Através de uma gestão minimalista, as empresas tornaram sinonimo de eficiência os resultados financeiros, descurando a gestão das expectativas do capital humano, o que levou à criação de níveis intermédios de gestores sem competências ao nível da inteligência emocional e social. 
O nível de satisfação no trabalho vivido pelos trabalhadores portugueses é do mais baixo da Europa.

Mas não podemos concordar com Sartre que “o inferno são os outros” e devemos reconhecer que também nós temos culpa. Esta liberdade que nos afogou na incapacidade de dizer o que pensamos é castradora do tal sentimento de realização e identificação.

É a vida dos resignados e de uma visão do mundo enquanto espectadores a quem basta receber o dinheirinho no final do mês para ficarmos contentes.

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