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Educação diferenciada



A propósito de um artigo no Público (02/01/2012)

Em Portugal o ensino diferenciado funciona em 4 escolas, duas em Lisboa e duas no Porto, todas pertencentes à cooperativa Fomento e ligadas à Opus Dei.

O director de um dos colégios afirma que o modelo de ensino português, foi feito “por mulheres e para mulheres”, sendo este leccionado mais por professoras do que por professores, o que explica o sucesso das raparigas e o insucesso dos rapazes.
Para este director, os rapazes precisam de ser muito mais estimulados, de sentirem o desafio e de serem puxados por pequenas metas. Ao contrário, nas raparigas a preocupação deve assentar na relação entre aluna e professora, não necessitando de ambiente de competição e de estímulo.

Esta visão diferenciada é apenas uma das três grandes abordagens sobre as diferenças de género. 

Há os que defendem a existência de uma base biológica nas diferenças de comportamento entre homens e mulheres. Esta diferença natural – cromossomas, genética, tamanho do cérebro – é responsável pelos diferentes comportamentos entre géneros, caracterizando a maior parte das sociedades.

Depois a visão funcionalista que estabelece a separação entre sexo biológico e género social. É a chamada socialização de género. A criança nasce com o sexo biológico e desenvolve-se, interiorizando progressivamente, através de sanções positivas e negativas, as normas e expectativas sociais que correspondem ao seu sexo (socialização).
Segundo esta abordagem, é através desta socialização que os seus agentes contribuem para a manutenção da ordem social.

Nos últimos anos, as teorias da socialização e do papel de género apontam para uma construção social, tanto o género social como o sexo. Isto é, defendem que é possível atribuir ao sexo, significados que desafiam o que é, geralmente, considerado «natural». Os indivíduos podem optar por construir ou reconstruir os seus corpos conforme a sua vontade (operações da mudança de sexo).

Fundamentalmente o que me parece é que as pessoas são agentes activos, que têm uma influência inquestionável na construção social e vários são os estudos que apontam para que as identidades de género são fruto das influências sociais. 

O que se verifica também, é que, por ser socialmente construído, só o facto de se ser homem ou mulher, faz com que a sociedade atribua papéis sociais diferenciadores, o que faz com que o género se torne um factor crítico na estruturação dos tipos de oportunidade na vida dos indivíduos. Veja-se os casos de violação de jovens na Índia, ocorridos em autocarros e que só recentemente vieram a público.
As diferenças de género continuam a servir de base, não só para as desigualdades sociais como para criar estereótipos o que deverá servir de preocupação para quem defende a igualdade de oportunidades entre homens e mulheres.

Os estereótipos de género referem-se a sistemas de crenças a propósito dos homens e mulheres e podem situar-se a dois níveis: os estereótipos dos papéis de género e os estereótipos dos traços de género. Os primeiros referem-se às crenças sobre a apropriação que a sociedade faz dos vários papéis e actividades atribuídos, uns especificamente aos homens (ex. motorista de pesados), outros às mulheres (ex. secretária). Os segundos são asterismos psicológicos que se pensam caracterizar os homens mais ou menos frequentemente que as mulheres (ex. os homens são mais robustos e fortes).

A este nível que a escola tem um papel fundamental na (des)construção dos estereótipos de género. É por isso que os professores devem ser neutros na gestão das expectativas sobre comportamentos, na avaliação dos mesmos e na igualdade de cedência do poder e estatuto dos alunos.

O exemplo trazido pelo Público vai contra a igualdade entre homens e mulheres e só sobressai numa altura em que o sistema educativo está descredibilizado, não por devido às diferenças de género mas pela utilização política da educação.

E, como diz a directora do Colégio Mira Rio, o futuro deste modelo é muito reservado devido à crise económica porque as escolas são privadas e, por isso, pagas. 

Poderá concluir-se que as escolas diferenciadas levam não só aos estereótipos de género como acentuam as desigualdades sociais?

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