2012 foi o ano europeu do
envelhecimento activo. Acontecimento que, numa Europa de população envelhecida, deveria ter sido uma
oportunidade de repensar o modelo social e geracional.
Se por um lado existe a visão
optimista de que a realidade actual permite uma esperança de vida mais longa,
por outro assiste-se a um aumento dos preconceitos sobre as pessoas mais velhas
com impactos bastante negativos ao nível profissional e social. Crenças que, ao
contrário, deveriam desaparecer já que as reduzidas taxas de natalidade tem-se
acentuado nos países desenvolvidos.
Na Europa, nos últimos 25 anos
verificou-se um aumento na ordem dos 5% no número de idosos (12,8% em 1985
contra 17,4% em 2010), tendência que irá acentuar-se, prevendo-se que duplique
até 2060.
Ultimamente, temos vindo a
assistir à implementação de políticas que apontam para o aumento na idade da
reforma o que tem provocado diversos descontentamentos sociais. Contudo uma das
chaves para fazer face aos desafios impostos pelo desequilíbrio geracional é
precisamente permitir que as pessoas permaneçam activos por mais tempo no seu
local de trabalho.
Aparentemente parece haver aqui
uma exclusão de conceitos, mas a realidade é que as empresas não estão
preparadas para manter nos seus quadros pessoas mais velhas activas e felizes,
verificando-se no ambiente de trabalho a discriminação etária, especialmente na
passagem à reforma forçada e no despedimento, enquanto vão empregando
trabalhadores mais jovens.
Um dos objectivos do ano europeu
do envelhecimento foi precisamente chamar a atenção para a sociedade que os
mais velhos podem dar um contributo bastante valorizado, desde que se mantenham
activos e úteis nos seus papéis.
É crucial que os gestores se consciencializem
que é necessário permitir que os seus trabalhadores mais velhos se mantenham
saudáveis nos seus locais de trabalho, podendo isso ser um factor diferenciador
percebido pelo mercado.
Infelizmente nos 27 países da
Europa, mais de metade dos trabalhadores entre os 55-64 anos de idade está a
abandonar o trabalho antes de chegar à idade de reforma, significando que está
a ser desaproveitado um enorme potencial de experiências e competências que são
contributos decisivos a serem passados às gerações mais novas. “A idade confere ao seu humano uma
capacidade para integrar experiências diversificadas, uma percepção única sobre
passado, presente e futuro”.
A mudança de atitudes e o fazer
frente à discriminação que existe contra os mais velhos no local de trabalho
são factores fundamentais para reunir as condições favoráveis a uma cultura
empresarial saudável. Deverão pois os actuais líderes colocar na sua visão
estratégica a gestão da idade promovendo a saúde nas suas organizações,
implementando uma cultura de prevenção e melhoria do ambiente de trabalho,
capacitando as pessoas mais velhas para uma participação activa nos resultados
e ambiente organizacional.
“A gestão da idade nos locais de trabalho europeus mostra uma diferença
clara entre as organizações que lidam com o envelhecimento dos funcionários na
óptica da «resolução dos problemas» e encontrando formas «pró-activas» e aquelas
que não o fazem.”.
Estudos recentes apontam para uma
mudança de mentalidades: 61% dos europeus considera que as pessoas deveriam
continuar a trabalhar até à idade de reforma, e mesmo a manterem-se activos
depois dela através, por exemplo do trabalho voluntário, por forma a viverem
uma vida autónoma e saudável, o que felizmente poderá indiciar uma tendência
futura nas organizações modernas.
Novas investigações apontam
também no sentido de que, apesar do significado que tem o envelhecimento, as
pessoas mais velhas vivem tão felizes quanto as pessoas mais novas.
Tornar-se velho é processo que,
provavelmente, toda a gente vai por lá passar. E numa perspectiva ideal, a
reforma deveria ser encarada como um processo gradual e ligada ao
envelhecimento em “modo livre”, até
porque investigações recentes mostram que quanto mais saudável for a disposição
no trabalho antes da reforma, melhor será a qualidade de vida depois dela assim
como os níveis de saúde física e mental.
A luta contra a discriminação
etária continuará a ser um aspecto importante no futuro das sociedades
modernas.
- Sedlatschek, Christa, 2012, RH Magazine, Julho/Agosto, "Trabalhar melhor, por mais tempo"
- Gomes, Jorge e Castro, Francisca, 2012, RH Magazine, Julho/Agosto, "Um caminho para perto ou para longe da felicidade: o impacto da idade no percurso de vida e na conquista da felicidade",
- Giddens, Anthony, 2004, Sociologia, Fundação Calouste Gulbenkian
- Neto, Felix, 2004, Psicologia Social Aplicada, Universidade Aberta
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