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Como a falácia do custo irrecuperável se liga à ilusão de controlo



A reunião era como recuperar os cancelamentos dos meses anteriores.

 - Temos que tirar as listagens das saídas e verificar um a um, dizia o António.

 - Já tirei, comentava o chefe de equipa, temos cerca de 60. Isto vai-nos dar um trabalhão. Nem que tenhamos de não fazer mais nada amanhã, temos de picar um a um. Depois do trabalho que tivemos a convencer os clientes a aderir, não podemos deixar cair as vendas.

Toda a equipa concordava com ele. O Luís apesar de ter ideia diferente consentiu, não queria ser o desmancha-prazeres. 

Sentiam que tinham investido muito no passado naquelas subscrições e estavam avessos a perdê-los, ainda que neste mês cada subscrição valesse apenas 0,44 pontos de produção contra os 3 pontos dos meses anteriores.

O cenário descrito, envolve alguns dos erros de raciocínio mais comuns, entre eles o denominado “falácia do custo irrecuperável”. 

O nosso cérebro classifica qualquer informação relacionada com perdas duas vezes mais forte do que as relacionadas com ganhos (Kahneman e Tversky). Isto é, para compensar a angústia da perda, temos que ganhar outra coisa com o dobro do valor. Mas na maioria das decisões, isso não é tomado em conta. As pessoas tentam manter-se coerentes mostrando a sua credibilidade, ainda que os custos de avançar com a tarefa sejam mais elevados do que abandoná-la. As pessoas têm aversão às perdas e a equipa tinha investido muito do seu suor na venda daquelas adesões.

 - Vamos em frente! Se conseguimos antes, agora também vamos conseguir, falava novamente o Octávio, a manter a investidura motivacional. Afinal era isso que esperavam dele como líder.

Estudos indicam-nos que, numa perspectiva puramente de lógica, quando tomamos decisões para o futuro devemos tomar em consideração apenas os benefícios esperados e não os investimentos já feitos. De nada adianta ficar emocionalmente preso a situações que podem não dar mais nenhum retorno positivo.

Os cancelamentos das adesões foram decisões tomadas pelos clientes, muito provavelmente, com base numa avaliação das suas capacidades, individualmente, de manter o seu custo futuro.

A equipa ao acreditar que conseguiam novamente fazer com que os renunciantes voltassem a aderir, estava a incorrer também na “ilusão de controlo”. Isto é, criaram a expectativa de uma possibilidade de sucesso muito superior à probabilidade objectiva (Langer).

Este constructo (crença) está directamente ligado na gestão das expectativas (acreditavam que conseguiam), no valor do reforço e da situação (todos concordavam) e explica muito bem o comportamento individual (a anuência do Luís).

Acreditavam que controlavam a decisão do cliente. E, tal como Soloman Asch demonstrou, a pressão colectiva deforma o bom senso de toda a gente.

Sejam sempre cépticos e durmam sempre sozinhos sobre uma decisão.

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