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As ideias podem-nos conduzir à idiotice



As heurísticas são métodos de estudo que têm por objectivo saber como são encontradas soluções na resolução de problemas. Que recursos as pessoas utilizam quando tomam decisões.

As heuristicas baseadas na experiência e no planeamento, vieram substituir os anteriores modelos que se baseavam na procura algorítmica, aproximando-se mais da forma como o ser humano raciocina e tornando-se numa alternativa mais rápida e intuitiva. Consideram-se serem mais simplificadoras na medida em que procuram substituir questões difíceis por outras mais fáceis. 

Etimologicamente a palavra heurística significa descobrir. 

Plous (1993) define as heurísticas como regras gerais de influência utilizadas pelos sujeitos nos processos de decisão em ambientes de incerteza e risco. Têm como vantagens de utilização, a redução do tempo e recursos utilizados para que sejam feitos julgamentos razoavelmente bons. As heurísticas reduzem a complexidade das tarefas a simples operações de julgamento racional (atalhos mentais) mas que, recorrentemente, levam a uma visão distorcida da realidade. 


Pesquisas na área da Psicologia Experimental e Cognitiva vieram contradizer as Ciências Económicas que defendem a concepção de que o ser humano é capaz de dominar a racionalidade (Teoria da Escolha Racional).

Daniel Kahneman e Amos Tversky (1974), vieram defender que as heurísticas são úteis, mas, por vezes, podem levar a erros severos e sistemáticos.

Na prática, os que as pesquisas de Kahneman e Tversky (1974) vieram comprovar é que no processo de decisão, as pessoas não são racionais como a teoria económica defende, mas julgam com base em crenças, intuições e experiência anteriores. E isto conduz a erros muitas vezes com consequências graves. Esta regra é transversal à sociedade e acontece tanto ao nível familiar como administrativo e politico.

Uma das regras informais de julgamento que causa viés é a heuristica da disponibilidade: as pessoas avaliam a probabilidade de certas situações acontecerem com base na facilidade com recordam acontecimentos. 

A facilidade com que pensamentos e exemplos vêm à mente é também afectada por factores diversos como por exemplos as emoções. Um acontecimento vivido com emoção é mais facilmente imaginado e está mais disponível do que outro não emocional.
Como os exemplos mais facilmente lembrados aparecem mais vezes, têm uma maior frequência, influenciando a analise probabilistica de virem novamente a acontecer.
Diversos factores podem influenciar a disponibilidade como a superexposição a determinado ambiente; a familiaridade aos exemplos a que estamos mais acostumados e os acontecimentos mais recentes.

Wahlberg e Sjoberg (2000) chamaram a atenção que, antigamente, a fonte de informação tradicional mais utilizada nos julgamentos sobre a incerteza eram aqueles que nos estava proxima, como a família, os amigos ou o trabalho. Com o aparecimento da internet, as fontes de informação alargaram-se exponencialmente o que teve um impacto muito significativo nas distorções de julgamento.

A reunião de direcção tinha já começado após a hora marcada e o ambiente entre os seis não era saudável.
 - Estamos com um desempenho fraco na venda dos licores. Alguém tem ideias para melhorar isso? – perguntou o superior.
- Não é uma ideia nova, mas podemos vender às empresas. Acredito que nem todos os nossos  vendedores falaram aos seus clientes - disse um.
- Já que estamos em Agosto, penso que a presença dos emigrantes poderá ser uma boa oportunidade. – disse outro.
- São licores baratos e contam muito para o ranking comercial. Não temos outro produto com a mesma relação.
- Existem licores que são só para exportação e outros novos de muito boa qualidade.
Á medida que a reunião ia acontecendo e as ideias iam surgindo, um deles, enviava por email o relato com a seguinte mensagem – aqui têm boas ideias, aproveitem, vamos às vendas !”

Este cenário, provavelmente bastante razoável e comum nos processos de decisão das empresas, encaixa perfeitamente na tendência para a disponibilidade. A empresa já vendia licores há cerca de ano e meio e todas aquelas ideias, algumas com sucesso de vendas, já tinham sido postas em prática pelos vendedores.

Todos eles criaram uma imagem das vendas à medida da facilidade com que lhes ocorreram os exemplos. Graças à disponibilidades da memória, andavam a passear pela empresa com um mapa de riscos incorrectos que em nada se ajustava à realidade.

De facto, vejo cada vez com mais frequência pessoas que utilizam em primeiro lugar as ideias que lhes ocorrem de imediato o que muitas vezes se torna numa patetice colectiva.

Para evitar este erro de raciocínio, junte-se a pessoas que pensam de maneira diferente e tenham experiências de vida diversas.
Não só crescerá como pessoa como concluirá que é impossível lutar sozinho contra a idiotice.

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