Diariamente temos sido bombardeados com assuntos sobre a crise económica.
As dívidas soberanas, tendo como pano de fundo a situação grega, têm servido para o agravar da luta entre Estados (tenho dificuldade em chamar Nações), inclusive no centro da própria Europa. Pasme-se a reacção hostil da China à proposta que existe no Senado norte-americano para protecção do comércio interno.
O envolvimento de grandes bancos europeus em empréstimos obrigacionistas e a intervenção do BCE na regulação das dividas e controle da especulação mais não têm do que servido para prolongar as indecisões politicas. Na sua continuidade a Europa (suponho que unida dado que foi Merkel que falou) já trabalha num plano de recapitalização da banca.
Numa Europa que se diz historicamente central e onde se produziram grandes decisões no âmbito do humanismo político, tem-se assistido, nas últimas duas décadas, à importação da ideologia norte americana onde, à sua imagem, o sonho deu vantagem a uma minoria e se tem tornado o pesadelo para a maioria.
A economia, as empresas, os mercados e/ou as bolsas têm absorvido grande parte dos editoriais e noticias.
Ainda hoje o PR, no seu discurso à República (que continua mais interessada no tempo de praia), utilizou expressões como: "ilusão do passado"; "disciplina orçamental"; "poupança"; "vivemos muitos anos na letargia do consumo fácil, acomodamo-nos em excesso".
Angela Merkel utilizou o mesmo padrão ontem quando afirmou que a zona euro tem que compreender que o tempo de viver acima das possibilidades acabou de uma vez por todas.
O que se continua a verificar é que o discurso político é direccionado para a maioria enquanto as acções políticas, muitas por omissão, continuam direccionadas para a minoria.
Os primeiros vivem na terra os segundos continuam a viver no céu.
Aqui na terra, segundo dados do último relatório da OCDE, existem 44 milhões de desempregados nos 34 países que integram esta organização, o que aponta uma globalização do problema. Só nos EUA são 13 milhões.
Este é o lado menos visível desta crise mas a que se apresenta com contornos mais graves já que não se prevê uma diminuição nos próximos tempos. As empresas morrem, mas as pessoas ficam por cá.
Ainda que a grande preocupação neste índice incida sobre os jovens (em 2012, 1 em cada 5 não terá trabalho) verifica-se que o flagelo atinge todas as gerações com crescendo incidência também para os desempregados de longa duração.
Segundo aquele relatório, o desemprego entre os jovens vai atingir 17% em 2012, mais do dobro da taxa de desemprego total, sendo que na Europa será na ordem dos 20%. Refira-se que no estudo não entraram os jovens que deixaram os sistemas de ensino.
São 16,7 milhões os jovens, nos 26 países desenvolvidos da OCDE, que não estudam, não trabalham nem têm formação profissional. Destes, 10 milhões estão completamente inactivos e já deixaram de procurar emprego. Esta é a geração mais penalizada no presente e no futuro já que, simultaneamente ao facto de não haver criação de emprego, aquele que existe ou é criado, é precário. Esta é uma das razões porque os jovens estão a sair mais tarde de casa dos pais.
O desemprego de longa duração (superior a 1 ano) é também um problema com tendência a agravar-se. Nos EUA já atinge 30% dos desempregados e em Espanha ultrapassa os 40%. Este segmento enfrenta o enfraquecimento das competências profissionais face a um mercado de trabalho em evolução, com consequências graves nas finanças públicas. Para além disso, leva à marginalização e a uma perda significativa de motivação e auto estima com implicações graves na saúde individual e familiar.
Alguns analistas afirmam que o problema do desemprego é anterior à crise de 2008 e que é necessário haver crescimento económico para possibilitar a criação de emprego, mas o facto é que as alterações de políticas nos países ocidentais têm favorecido a contracção económica o que reduz as expectativas de recuperação.
O previsível aumento do desemprego vai prejudicar mais a classe média e que ainda vai servindo de “tampão” às convulsões sociais. A evolução social na Grécia é, acerca disso, um indicador relevante ao qual os líderes europeus têm sido pouco sensíveis dado que estão mais preocupados com a economia (e com a “saúde” dos credores). O desespero já tomou conta do governo e o ministro grego da economia já afirmou que o principal problema da Grécia é a insegurança.
Merkl afirmou ontem também que ninguém calcula os prejuízos advindos se a Grécia falir e sair do euro. Será que alguém adivinha os problemas que surgirão se a maioria na terra quiser dar de comer aos seus filhos e não tiver? Acho que cairá o céu e aqueles que lá estão.
Eu não sei quem veio primeiro mas acho que, neste momento, são prioritárias políticas de criação de emprego e só depois económicas sob pena do velho continente se dividir e se tornar num tabuleiro de guerrilhas globais e imprevisíveis.
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