Quase metade da minha vida é marcada pela ausência do gosto pela leitura. O primeiro livro que li do principio ao fim devia ter uns 17 anos, foi “Viagem ao Mundo da Droga” emprestado por um amigo que se drogava. Fiquei fascinado por Katmandu mas em negação às “viagens” de que ele tanto falava para me convencer.
Comecei a ler por obrigação a partir dos meus 25 anos. O curso de Direito é aquele em que a leitura é mais exigente, constante, obrigatória. Durante 5 anos li, li mesmo, todos os códigos (anotados). E também manuais, ensaios, jurisprudência, acórdãos, sentenças, enfim, coisas que, ainda hoje, não sei como o consegui.
“O mais do que isto, É Jesus Cristo, Que não sabia nada de finanças, Nem consta que tivesse biblioteca…”, está no prólogo do manual de Finanças Públicas e Direito Financeiro onde por baixo da data 12-03-2001, à mão escrita por mim, está a minha assinatura. Por que carga d’água colocam Fernando Pessoa numa coisa tão chata? Tamanho calvário foi castigo divino com toda a certeza que, tendo-me afastado da profissão de fé, me obrigou a estabelecer biblioteca.
Naquela altura adquiri o hábito de colocar data e assinatura, logo ali, na primeira folha. Era o exercício potestativo da posse, um sentimento que me passou quando compreendi que o que lhe estava para lá é que era importante. As pessoas. Talvez por isso os romances cansam-me. Ficou o jeito dos ensaios, das experiências, dos estudos de caso. E as pessoas claro.
Hoje comprei este livro. Não por ser dia do livro mas por tudo o resto.
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