Será muito difícil estabelecer uma relação de afecto e muito menos de lealdade. Ainda assim gostava que a morte fosse minha amiga.
Seria uma relação de não reciprocidade, tenho a certeza. Eu teria algo para lhe oferecer mas ela estaria vazia em mim – “talvez por isso, nunca possa ser uma relação de amizade”.
Mas gostava. Para que antes de entrar, batesse à porta, e pedisse licença. Dizem que quando a morte bate à porta o som é diferente de qualquer daqueles que a vida nos dá a conhecer. É seco, profundo como se caíssemos no vazio.
- Como estás hoje? Mostra-te lá. Não, hoje não entras! – aos amigos podemos-lhes dizer o que pensamos, à morte não porque não lhe conhecemos a cara.
Mas gostava. Nem que fosse só para ela vir ter comigo e perguntar se podia ir bater à porta daqueles por quem a nossa memória nunca se esquece.
Comentários