As aulas dos putos estão a chegar
ao fim.
Ai estão 3 meses de férias, de preocupações e de um gastar de dinheiro.
Principalmente para aqueles cujos filhos ainda não ficam em casa sozinhos. Todos os anos a mesma coisa.
Esta era a conversa de mesa de
café entre amigos ao final do dia. Campos de férias para ali, tempos livres
para acolá.
Todos os anos é a mesma coisa –
disse - não sei como vou resolver a situação. Felizmente, nem toda a gente
sofre desta problemática. O Luís tem duas crianças, uma com 16 anos e outra com
8. Uma toma conta da outra e a outra tem muito do seu tempo ocupado nas suas
actividades. Que actividades Luís? São actividades próprias para crianças com
inteligência acima da média – disse o Luis – 3 vezes por semana.
Hummm… – disse eu – e calei-me
por ali.
Não tenho nada contra esta coisa
da inteligência, mas sempre me causou alguma constrangimento a facilidade com
que compartimentamos, numa arrumação catalogada, as crianças. E então, quando
estendemos a conversa para níveis de comparação entre pares é meio caminho para
ulceras de stress ao longo da vida.
Sempre controverso é o conceito e
estudo da inteligência.
Em termos de definição, de medida e de grau de
hereditariedade que envolve. As várias teorias e modelos justificam a
controvérsia (Teorias psicométricas, Teorias do processamento de informação,
Teorias do desenvolvimento cognitivo, Teorias contextuais).
Embora compreenda que tenha de
haver um modelo de medição desta capacidade, creio que, cada vez mais, é
necessário cuidado nas explicações das diferenças individuais para que as próprias
crianças não cresçam e vivam com crenças, mitos e preconceitos.
Basta perceber que, capacidade e
adaptabilidade prática para situações do dia-a-dia, de relacionamento social e
de estabilidade emocional, são conceitos críticos para o bem-estar, e não se
conseguem medir.
Acerca deste assunto partilho a
opinião de Paul Tough que diz, nesta questão de como olhamos para as nossas
crianças, estarmos a direccionar erradamente o nosso esforço. Em vez de vermos
os nossos filhos como uns Einstein e considerar o QI como determinante de
sucesso, deveríamos concentrar-nos em desenvolver as competências não
cognitivas que formam o carácter como a resiliência, o optimismo, saber lidar
com o fracasso, gerir o stress, o auto-controlo, a curiosidade, a persistência,
a coragem, etc, enfim, aprendendo com os erros.
Esta teoria deita por terra,
ainda que não completamente, a ideia de que de um lado estão os vencedores, do
outro os fracassados, e que o sucesso depende muito das competências cognitivas
(medidas pelos testes de QI), isto é, da capacidade de fazer cálculos, definir
padrões, etc, sendo a melhor forma de desenvolvimento a prática continuada e o
mais cedo possível.
O que o estudo de Paul Tough veio
também provar é que o fracasso é particularmente afectado pelos ambientes
caóticos e relacionamentos desgastantes que mantêm com os adultos que os
rodeiam, enquanto crianças.
Recordo-me de um caso de uma
criança pobre de 11 anos, que conheci pessoalmente, muito problemática na
escola e nos relacionamentos e que um dia recebeu um convite do Futebol Clube
do Porto para ingressar nas suas escolas de futebol.
Nesse dia percebi que o
puto, segundo Gardner, tinha uma inteligência espacial muito acima da média.
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