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Queremos melhores professores


Se considerarmos o espectro político dividido em duas partes, há princípios que são claramente de direita e outros que são claramente de esquerda. 

A questão da inclusão social é um dos factores críticos desta diferenciação. Se um aponta no sentido da culpabilização da vítima argumentando com base numa cultura da pobreza e dependência, o outro defende a culpabilização do sistema, numa perspectiva de responsabilidade colectiva, em que os grandes processos sociais produzem condições de pobreza muito difíceis de serem ultrapassados.

São diversas as dimensões sociais onde poderemos sentir e escolher a nossa proximidade à causa. E ainda que ao longo do ciclo da vida a consciência, a formação ideológica ou a percepção do outro, vá variando nesta relação de proximidade, há resguardos incrustados na nossa criação que nos impedem de tomarmos opções contraditórias com o bem-estar dos princípios que nos educaram.

A propósito disso, é interessante verificar as conclusões do recente Relatório da OCDE dedicado à qualidade e equidade da educação e elaborado a partir dos dados PISA de 2009.

Ao nível da OCDE, um em cada cinco alunos não chega a atingir um nível básico mínimo de formação que permita integrar-se na sociedade de hoje. E os alunos oriundos de meios sócio económicos mais desfavorecidos têm duas vezes mais probabilidades de ter insucesso escolar. Deste facto conclui que, por um lado existe exclusão social nos níveis básicos dos sistemas educacionais e por outro, falta de equidade ponderado pelas circunstâncias pessoais ou sociais dos indivíduos e cuja consequência é o abandono escolar.

Em Portugal, um em cada três alunos repetiu, pelo menos, um ano lectivo do ensino básico ou secundário. A média dos países analisados é de 13% enquanto a de Portugal representa cerca de 35%. Mas esta realidade é transversal a muitos países da OCDE e entre os mais desenvolvidos. 

A retenção de alunos tem, não só custos directos sobre as verbas afectadas ao ensino mas principalmente custos indirectos bastante elevados para os indivíduos e sociedades atrasando a educação e a entrada no mercado de trabalho.

E este factor não está relacionado com as verbas afectas à educação, havendo países com investimento superior mas com resultados inferiores e vice-versa, mas com as formas de utilização desses recursos financeiros. Não valer a pena portanto, exigirmos mais dinheiro para a educação, pelo menos enquanto não tornarmos o sistema mais equitativo e com melhor qualidade..

Uma das claras conclusões do estudo é que a qualidade do sistema está relacionada com a capacidade deste considerar que todos os estudantes podem ter êxito, e assim não deixar que os alunos que têm problemas repitam o ano, sejam agrupados em turmas ou transferidos para outra escola.

Veja-se as 5 recomendações do estudo para prevenir o insucesso escolar e promover a conclusão do ensino secundário:

1)      Reduzir ou mesmo eliminar a retenção escolar, através de estratégias que suprimam as lacunas na aprendizagem ou de mecanismos de aprovação automática e de limitação das reprovações a módulos com apoio específico;
2)       Evitar a identificação precoce de aptidões e adiar a selecção da área de formação para o ensino secundário;
3)      Gerir uma distribuição diversificada dos alunos pelas escolas, com vista a evitar a segregação e o aumento das desigualdades;
4)      Tornar as estratégias de financiamento sensíveis às necessidades dos alunos e das escolas, garantindo a equidade e a qualidade nos sistemas educacionais;
5)      Conceber alternativas de formação equivalentes ao nível de ensino secundário, assegurando a conclusão do percurso académico.

Percebe-se agora a diferença entre as políticas educacionais encetadas pela Maria de Lurdes Rodrigues, as do projecto das Novas Oportunidades e as alterações que lhes sucederam com este governo.

Obviamente que as politicas educacionais têm que estar ordenadas com outras politicas sociais com vista a permitir o acesso igualitário de todos à educação.

Será difícil para cada um de nós, habituados que estamos a viver no Pais da OCDE onde se verifica as maiores desigualdades sociais aceitarmos ver os nossos filhos a conviver com outros de etnia ou raça diferente e são profícuas as opiniões que vão precisamente em sentido contrário a estas conclusões.

Mas se as sociedades que melhor conseguem reagir às adversidades são aquelas que possuem indivíduos mais qualificados e com um bom nível de educação, seria bom que o esforço que actualmente nos impõe percorresse caminhos de responsabilidade integradora.

Já agora, o País que se distingue nos melhores resultados é a China. Não pela sua riqueza ou pelo investimento na educação, mas por privilegiar a qualidade dos professores em detrimento do tamanho das turmas. 

Curioso.

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