Este é o ano dos 50’s.
Um dia destes perguntaram-me se
me sentia velho. Na verdade não sei e é estranho.
Deveria? Lembrei-me do filme dos
irmãos Coen.
De facto, aquilo que me preocupa
não é a idade no sentido etimológico mas sim no sentido semântico. Hoje ter
cinquenta anos já não significa estar no fim da vida. Nem tão pouco no princípio
do fim. Isso é bom e devemos agradecer à ciência.
Mas a sociedade (ocidental)
encarregou-se de fazer com que, socialmente, acima dos cinquenta se tenha
tornado sinónimo de dispensável. E essa incerteza é a minha dor.
Se a caminhada no ciclo da adultez
se fazia na certeza de uma chegada à reforma em equilíbrio e com saúde, hoje é
necessário também muita resiliência.
Na verdade a incapacidade que, pessoas
e organizações e até mesmo Estados, desenvolveram no sentido de menosprezar os
recursos menos cognitivos (reter informação) é tanto mais hipócrita na medida
em que estão a desprezar aqueles que mais competências desenvolveram nos
compromissos, na tolerância, na humildade, na franqueza e até na lealdade. Conceitos
que a escola económica e política afastou erradamente da sustentabilidade
evolutiva das sociedades modernas.
Um dia destes, a minha filha mais
velha, num momento à conversa disse que gostava de poder falar das recordações
da sua infância como eu falava da minha. De facto, o que ela sentia era a falta
de referências.
Como pode alguém dos anos 80
perceber a emoção que colocamos na musica dos Pink Floyd, Led Zepplin ou The
Who. A entrega aos discursos de Steve Biko, Ghandi ou Martin Luther King. A ideologia das politicas
de Olof Palme ou dos movimentos de comportamento contracultura.
Mas a história encarrega-se de
endireitar caminhos que foram deslocados dos interesses e necessidades mais
amplas das sociedades ou culturas.
Hoje, acredito, que
aquilo que precisamos para ultrapassar a crise são de pessoas experientes e com
capacidade de resistência. Pessoas que já experiênciaram dificuldades para
conseguir aguentar este empobrecimento. Que desenvolveram competências interpessoais
fortes e com inteligência emocional suficiente para transmitir valores sólidos.
Sinto-me novo e em forma.
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