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A minha Festa do Avante

A primeira vez que fui à Festa do Avante foi em 1980. Alto da Ajuda. Durante 4 anos seguidos marquei-lhe a presença, sempre, por 5 dias. No parque de campismo. Onde chegava de véspera e só arrancava as estacas no dia seguinte ao último concerto. A partir de 85 nunca mais lá fui. Não sei explicar porquê. Não foi por falta de vontade. Talvez porque a oferta tenha crescido e diversificou-se para Alvalade ou para o Restelo. Para o Coliseu de Lisboa também. Mas foi com a Festa que começaram a vir a Portugal grandes nomes da música nacional e internacional que a ditadura proibia. Foi ela que me possibilitou de ver ao perto o que apenas ouvia de longe.

Mas a minha Festa não era só isso. Era também o contacto com outras culturas. Com gentes diferentes. Gentes de dentro e de fora. Uma abertura para o desconhecido. Limitado, sei agora, mas de descoberta, na altura. Uma vez presenciei o discurso de abertura apenas com o interesse de assistir a um dos concertos da minha vida. Chico Buarque. Foi preciso assentar lugar, mesmo à frente, desde muito cedo. O de encerramento, sempre. Precisava de me despedir de desconhecidos que, comigo, tinham passado aqueles dias. Amizades de 3 dias que nunca se aprofundaram.

A minha Festa foi um lugar de cultura, de vivências sociais e gastronómicas. Acima de tudo de primeiras experiências. Lembro-me das malgas de vinho verde, do cheiro e do gosto deixado na carne espetada em pau de louro da Madeira e da cuba-libre divinamente preparada por gente cubana que, muitas vezes, me matou a sede enquanto ouvia Company Segundo.

A minha Festa foi sempre um lugar de diversidade, de liberdade, de conhecimento e de crescimento. Nada me leva a pensar que, se este ano lá for, a Festa de hoje seja diferente. Acredito que, este sentido de pertença, faz parte da maioria das pessoas que lá vão. A Festa do Avante é um evento cultural, talvez o maior, organizado por um partido politico. Sem condições de admissão.

É por isso que não me identifico com as pessoas que tentam encontrar no conflito da guerra a causalidade para não se ir à Festa do Avante. Talvez, como ouvi dizer ao Vitorino, os portugueses não gostem mesmo deles próprios. Por isso, digo eu, aproveitam na crítica aos outros a negação da sua realização pessoal.

Como disse o Paulo de Bragança: “vão tomar banho”.


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