Avançar para o conteúdo principal

Mensagens

A mostrar mensagens de novembro, 2011

Livraria 107

Ontem fui à última tertúlia literária desta livraria que encerrou as suas portas definitivamente. Morreu mais um pedaço de cultura em Portugal. Obrigado mais uma vez á Isabel Castanheira que, desta vez nos permitiu estar à conversa com o António Barreto. Não pude de deixar de ficar emocionado e encantado. Aqui fica o poema do Pedro Mexia, por ela declamado: Pó   Nas estantes os livros ficam (até se dispersarem ou desfazerem) enquanto tudo passa. O pó acumula-se e depois de limpo torna a acumular-se no cimo das lombadas. Quando a cidade está suja (obras, carros, poeiras) o pó é mais negro e por vezes espesso. Os livros ficam, valem mais que tudo, mas apesar do amor (amor das coisas mudas que sussurram) e do cuidado doméstico fica sempre, em baixo, do lado oposto à lombada, uma pequena marca negra do pó nas páginas. A marca faz parte dos livros. Estão marcados. Nós também. Pedro Mexia, in "Duplo Império

Precisa-se de um novo John Locke

Hoje, alguém me disse: “parece que isto está, lentamente, a desmoronar-se!” De facto, tudo parece inclinar-se na vertigem de um caminho que teima em se agravar mas onde ainda vamos mantendo um equilíbrio precário. A sensação é que as lideranças se anulam, as estratégias se desusam e as acções se esvaziam num tempo perdido e de difícil recuperação. E o trilho contínua inclinado na direcção do abismo apesar das mensagens traiçoeiramente optimistas, vazias e falazes. Para quem contacta diariamente com pessoas e empresas, a sensação é que ainda ninguém interiorizou as forçadas mudanças que decorrem e que se agravarão no futuro já ali. Se bem repararmos, até na Europa, não tem existido hiper-vigilância quanto aos efeitos negativos da economia nos Estados, organizações, empresas e pessoas faltando planos estratégicos com acções de antecipação bem definidas e claras. Quase que se poderá fazer um paralelismo entre a inércia adaptativa do eixo franco-alemão: vamos ver se

Evolução dos rendimentos mais elevados em Portugal

Este gráfico representa a evolução dos 10% dos rendimentos mais elevados em Portugal desde o 25 de Abril até 2005, comparando-os com os mesmos 10% com Espanha e França. Na década de 70 praticamente não houve crescimento, condicionado pela revolução de Abril, as nacionalizações e as condições internacionais menos favoráveis. A partir de 80, começou um período de crescimento considerável devido às privatizações, à adesão à UE em 1986 e às alterações das politicas fiscais e monetárias. Em 1950 o PIB per capita em Portugal era 15% menor do quer o de Espanha e 60% menor do que o de França. Em 2005 o PIB per capita em Portugal é cerca de 20% menor do que o de Espanha e cerca de 30-35% menor do que o de França. Entre 1983 e 1992 existe uma crescente desigualdade de rendimentos onde se verifica uma evolução mais significativa dos rendimentos mais elevados e um aumento da dispersão entre estes e os mais baixos. Segundo os autores, entre 1930 e 1940 havia muito mais concentração

Banco de Portugal e literacia financeira

A semana passada o Banco de Portugal divulgou os resultados nacionais à literacia financeira da população portuguesa. O estudo, efectuado por inquérito presencial, teve uma amostra de 2000 entrevistados com idade igual ou superior a 16 anos. Margem de erro de 2,2% para uma probabilidade de 95%. As dimensões analisadas e síntese dos resultados  foram as seguintes: Inclusão financeira (a conta bancária como factor de integração social e também um indicador utilizado na comparação do desenvolvimento económico internacional) : Cerca de 11% da população não tem conta bancária. Destes, 10% são trabalhadores por conta de outrem e mais de metade tem entre 16/24 anos e acima de 70 anos. Dos que têm conta, 29% não tem outros produtos financeiros para além do deposito à ordem. Estes valores estão em média com os restantes da OCDE. Os produtos bancários mais comuns são: Seguros (37%); Cartões de Crédito (32%); Depósitos a Prazo (31%); Crédito Habitação (26%) e Descoberto bancári

A estruturalidade do nosso desemprego (*) e as medidas não curativas

A crise iniciada em 2008 trouxe para o espaço de discussão pública diversos conceitos a que não estávamos habituados.  De forma geral, o problema financeiro tem sido central no combate e adopção de medidas que visam fundamentalmente a diminuição do défice público e do endividamento externo e cujos efeitos se adivinham bastante negativos para o crescimento da nossa economia. Este tipo de curativo esbarra num dos problemas mais sérios da nossa economia: o desemprego que desde há dez anos tem vindo a aumentar, de forma gradual até 2008, mas agravando-se nos últimos 3 anos.  Entre o 3º/T de 2008 e o período homólogo de 2010, o número de desempregados (Fonte do INE a partir de uma amostra representativa) aumentou 40,5%, sendo esta a consequência mais relevante da crise financeira, factor determinante na capacidade de gerar riqueza e multiplicador no risco de pobreza de uma sociedade. Esta dimensão é reveladora de alguns dos principais problemas que se colocam à nossa economi

O bem-estar dos cidadãos

“ A crise da zona euro torna necessária uma maior integração política da UE. Mas a via seguida pelos dirigentes europeus deixa de lado aquilo que deveria ser a sua prioridade: o bem-estar dos cidadãos, definido num quadro democrático ” - Jürgen Habermas.  Os líderes políticos têm esquecido as falhas que estão na base da união monetária e, nos seus esforços para reforçar o pacto europeu, apenas se têm preocupado em celebrar acordos não vinculativos improdutivos e sem qualquer efeito prático. Numa postura pouco democrática, estimulada por uma falta de solidariedade alemã, falta à EU uma compreensão para as diferenças nacionais. Desde o inicio da crise que a EU está dividida nas suas preocupações. Por um lado, os imperativos da banca e das agências de rating e por outro a consciência da falta de legitimidade democrática junto das populações cada vez mais incontroláveis. Não se percebe como vai ser possível conciliar as medidas restritivas adoptadas com a manutenção de um es

O que não nos mata torna-nos mais fortes

Hoje, num daqueles azulejos tradicionais, li a seguinte frase: “Quem vive com a sua sorte, será feliz até à morte”. Hoje, tanto como antes de 74 por cá, a mensagem da classe política continua a apontar o caminho da resignação com a “sorte” que, não nos tendo calhado por sorte, nos foi viciada e corruptamente sorteada. A frase tem uma documentada contemporaneidade. Recordo-me uma outra que em determinada altura da minha vida: “ a única forma de lutar contra eles é sermos profissionalmente irrepreensíveis”. Também ela sem tempo. Hoje estamos condicionados pelo medo de falhar, estigmatizados sob o problema do desemprego e de medidas que sacrificam a nossa identidade. Nesta Europa, que caminha a passos largos para o fim do euro tal como o conhecemos hoje, continua-se a separar os bons dos maus alunos num julgamento politicamente representativo de quem já só pensa em circuito fechado sob a apologia do sucesso. A OIT lançou o desafio: nos próximos dois anos só vão se